Analisar uma empresa é uma tarefa árdua para quem não possui vasto conhecimento analítico. Como tenho recebido diversos pedidos de auxílio sobre este assunto, resolvi escrever um texto para ajudar o investidor iniciante a realizar sua própria análise de empresas. Obviamente, ler este texto não o tornará um analista profissional, entretanto, fornecerá as diretrizes para iniciar seus estudos no campo da análise de investimentos.
Os ensinamentos tratados no presente texto foram retirados do sexto capítulo do livro The Five Rules for Successful Stock Investing, escrito por Pat Dorsey, diretor de análise de ações da Morningstar, com auxílio de Joe Mansueto, o bilionário americano fundador da mesma companhia.
Segundo os autores do livro, para tornar o complexo procedimento de analisar empresas mais simples, é inteligente da parte do investidor desmembrar o processo em cinco grandes áreas: crescimento, rentabilidade, saúde financeira, riscos e gestão. Comentarei brevemente a seguir sobre as duas primeiras áreas mencionadas e,, na Parte II do texto, abordarei as três áreas restantes.
Crescimento
Existem três pontos de extrema relevância em se tratando de crescimento, são eles: a velocidade, as fontes e a sustentabilidade.
Em primeiro lugar, devemos olhar para a velocidade do crescimento. Para isso, é necessário compreender profundamente o mercado em que a empresa está inserida, pois uma empresa pode crescer em ritmo acelerado, entretanto, tal crescimento pode ser aquém ou além da média do setor.
Caso a empresa esteja ganhando participação, provavelmente ela crescerá mais do que o mercado, o que pode ser um bom indicativo de vantagens competitivas. Empresas que apresentam crescimento inferior à média do setor provavelmente estão perdendo mercado para a concorrência.
Em relação às fontes de crescimento, temos quatro possibilidades relevantes. A empresa pode crescer através da venda em maior volume de produtos e serviços, do aumento de preços, da venda de novos produtos e serviços ou aquisição de companhias.
Quando uma empresa aumenta a venda de produtos existentes, ela aproveitará o crescimento do mercado ou ampliará sua participação naquele segmento. Caso ela possua poder real de precificação, a empresa será capaz de aumentar suas margens sem que isso acarrete na perda de clientes.
Quando o poder de precificação se esgota e a empresa se torna incapaz de aumentar sua participação de mercado, a companhia pode buscar novos produtos para sustentar seu crescimento.
Por fim, a gestão pode adquirir companhias que tragam sinergias para impulsionar o crescimento da empresa.
Quando compreendemos a velocidade e as fontes de crescimento, devemos observar a sustentabilidade da ampliação das operações. Uma empresa que cresce exclusivamente através de ganho de participação de mercado, por exemplo, pode apresentar crescimento limitado quando sua participação atingir uma representatividade significativa.
Rentabilidade
O segundo ponto de extrema relevância a se observar quando analisamos empresas é a rentabilidade que a operação gera para os acionistas. Neste quesito, existem diversas métricas que podem ser avaliadas.
A depender do modelo de negócio e do setor de atuação, um indicador se mostrará mais apropriado do que os outros. Entretanto, podemos destacar três indicadores para analisar a rentabilidade de uma companhia. São eles: o Return On Assets (ROA), o Return On Equity (ROE) e o Return On Invested Capital (ROIC).
O primeiro componente do ROA é a margem líquida, que pode ser calculada a partir do lucro líquido dividido pelas vendas. O segundo direcionador do ROA é o giro de ativos, que pode ser calculado dividindo as vendas pelos ativos.
O segundo componente nos traz a eficiência que a companhia possui em transformar ativos em receitas. Multiplicando a margem líquida pelo giro de ativos temos o Return On Assets, ou simplesmente ROA.
Em segundo lugar, temos o Return On Equity (ROE). O ROE pode ser calculado de maneira simples pela multiplicação do ROA pela alavancagem da empresa. Deste modo, podemos perceber que o ROE possuí três direcionadores, sendo eles, a margem líquida, o giro de ativos e a alavancagem.
Multiplicando os três direcionadores, percebemos que o ROE é resultado da divisão do lucro líquido pelo patrimônio líquido, o que seria uma segunda forma mais simples de calcular o indicador.
Por fim, temos o Return On Invested Capital (ROIC). Talvez este seja o indicador mais relevante entre todos. Isso ocorre pois, em essência, o ROIC melhora o ROA e o ROE ao desconsiderar a forma de financiamento da empresa. Uma companhia altamente alavancada pode apresentar um ROE interessante, mas a alavancagem pode comprometer a saúde financeira da empresa.
Assim, este indicador possui como objetivo compreender a rentabilidade da operação da empresa, independentemente da forma como esta operação foi financiada. Para isso, no cálculo do ROIC, utilizamos o lucro operacional líquido de impostos antes do pagamento de juros, métrica conhecida como NOPAT. Deste modo, basta dividir o NOPAT pelo capital investido que chegamos no ROIC.
Lembre-se, todos os indicadores de rentabilidade mencionados acima possuem grande relevância e, em cada caso, algum se sobressairá perante os demais. Cabe ao investidor compreender a essência dos indicadores e o modelo de negócio da companhia em estudo para que sua análise seja condizente com a realidade.
Na Parte II deste texto, apresentarei alguns comentários sobre as três áreas restantes na análise da qualidade de uma empresa e de seu modelo de negócio.