Texto originalmente publicado por Gutenberg Neto em nosso grupo do Facebook
Em 1984, para comemorar os 50 anos de lançamento de “Security Analysis” por Benjamin Graham e David Dodd, o livro seminal da filosofia do value investing, Warren Buffett ofereceu uma rara contribuição acadêmica, na revista periódica da Escola de Negócios da Universidade de Columbia, sob o título de “The Superinvestors of Graham-and-Doddsville”.
Naquele momento, a Hipótese do Mercado Eficiente (HME) vinha ganhando cada vez mais força dentro do campo de estudo da Economia com a proposta de que os mercados financeiros eram perfeitamente precificados e que ativos como ações de empresas eram sempre listados no seu valor justo, baseado em uma avaliação racional coletiva que levava em conta toda a informação disponível sobre cada ativo. Desta forma, seria impossível para qualquer investidor obter resultados acima do mercado consistentemente e não havia motivo para se preocupar em analisar os mercados em busca de barganhas, sendo que situações como a do próprio Buffett, que na época já vinha obtendo ótimos resultados com seus investimentos, seriam explicadas como simples aberrações estatísticas.
Em seu artigo, Buffett começa sugerindo que, se os vencedores a longo prazo nos mercados pudessem todos ser explicados por sorte ou desvio estatístico, não faria sentido que um percentual tão grande desses vencedores compartilhasse a mesma base intelectual. Na prática, porém, era exatamente isso que acontecia: os investidores que batiam os mercados no longo prazo tinham em comum a filosofia do value investing (na analogia do autor, era como se fossem todos cidadãos de um mesmo vilarejo, o “Graham-and-Doddsville” do título).
Ao todo, são citados no artigo 9 exemplos de fundos de investimento ou de pensão com ganhos ao longo de vários anos (em alguns casos, décadas), todos geridos por alunos de Benjamin Graham e David Dodd. O interessante é que apesar de compartilharem a mesma base intelectual, a forma específica de investimento variava muito de caso para caso e havia muito pouca interseção entre os investimentos específicos realizados por cada um. Alguns, como Walter J. Schloss, investiam em inúmeras empresas (mais de 100 em determinados momentos), desde que encontrassem a devida margem de segurança para tal. Outros, como o próprio Warren Buffett preferiam uma quantidade menor de ativos. Apesar disso, e de acordo com a filosofia de Graham e Dodd, todos eles focavam especialmente em 2 principais variáveis: preço e valor.
Já se passaram mais de 30 anos desde a publicação de “The Superinvestors of Graham-and-Doddsville” e os ensinamentos são mais atuais do que nunca. Mesmo hoje, apesar de ter continuado a demonstrar expressivos ganhos ao longo de décadas, Buffett continua a ser quase que inteiramente ignorado por acadêmicos, a HME ainda é citada por muitos como prova de que vale mais a pena comprar índices de ações do que fazer stock picking e é comum vermos investidores dos mais diversos campos de estudo tratando o preço de um ativo como fator de menor importância.
Apesar de continuar ignorado por enorme parcela dos investidores, especialmente aqueles que buscam o lucro fácil e rápido, o value investing continuou sendo a filosofia de investimento por trás de praticamente todos os investidores que alcançaram fortuna no mercado de ações mesmo nos anos após o lançamento do artigo, como Peter Lynch, Joel Greenblatt. Seth Klarman, Mohnish Pabrai, Guy Spier, entre tantos outros. Não importa o quanto o mundo mude, mas empresas em ótimos negócios e que sejam bem geridas, continuam consistentemente gerando valor para o investidor e ajudando a construir riqueza.
Termino com uma tradução livre da conclusão de Buffett, que foi escrita em 1984 mas poderia facilmente ter sido escrita em 2017: “Não vi nenhuma tendência em direção ao value investing nos 35 anos em que o pratico. Parece haver alguma perversa característica humana que gosta de transformar coisas fáceis em difíceis. O mundo acadêmico, na verdade, parece ter se afastado do ensino do value investing ao longo dos últimos 30 anos. Muito provavelmente continuará assim. Navios continuarão navegando ao redor do mundo, mas a Sociedade da Terra Plana irá florescer. Continuarão existindo grandes discrepâncias entre preço e valor no mercado e aqueles que lerem Graham & Dodd seguirão prosperando.
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