Dividendos: os frutos da independência financeira

Os canaviais ocupam grande parte das terras cultivadas no Brasil. A cada ciclo de três a cinco safras, queimadas são realizadas para facilitar o replantio da cana-de-açúcar pelos boias-frias. Se o dono do canavial quiser lucrar com o próximo ciclo, terá que refazer o plantio, esperar as safras vingarem e queimar tudo novamente, até que o governo lhe obrigue a mecanizar o processo.

As oliveiras, por outro lado, são as árvores que produzem azeitonas, das quais se extraem o azeite de oliva. Os pés de oliva, quando plantados, levam alguns anos para ofertar as primeiras azeitonas. Em compensação, podem fornecer azeite por séculos. Algumas oliveiras de Israel alcançam mais de dois milênios.

A cultura dominante ensina que devemos ter educação formal para obter o melhor emprego possível. Associa-se o elevado padrão de vida a um salário alto. Em parte, isso é verdade, mas é uma situação que não se sustenta estruturalmente. Você pode ter um ótimo emprego ou dirigir um negócio: a partir do momento em que você deixar de exercer sua função, sua renda cessará e seu padrão de vida entrará em declínio.

Uma boa ocupação, por si só, não é garantia de independência financeira em longo prazo. Quando um salário cai na conta de uma pessoa empregada, é como se ela acabasse de queimar seu pé de cana. Se quiser receber o salário do mês que vem, terá que começar tudo de novo, já no dia seguinte.

Para fazer o pé-de-meia é preciso gerar renda passiva. É preciso ter pés de oliveira, de maçã, de café, de laranja – metaforicamente. A obtenção de renda passiva se dá pela aquisição de ativos financeiros. Para tanto, não basta receber educação formal para o trabalho: é preciso obter, também, educação financeira.

Bolsa de Valores: acesso democrático para obtenção de ativos

Existem vários tipos de ativos que geram renda passiva. Entre os mais difundidos estão os imóveis alugados, as propriedades agrícolas arrendadas, algumas aplicações bancárias e a previdência privada, dado que o sistema público nunca foi confiável. Há quem priorize a compra de títulos do Tesouro Nacional. É possível, ainda, obter renda passiva de direitos autorais de obras literárias e músicas. As patentes fornecem royalties para quem desenvolve produtos inovadores e programas de computação.

As Bolsas de Valores exercem um papel nobre na sociedade: para atuar nestes ambientes financeiros não é preciso herdar terras e imóveis. Não é preciso emprestar quantias vultosas de dinheiro para bancos e governos, esperando viver de renda fixa. Não é preciso ser genial nas artes ou na tecnologia. Basta estar com os documentos em dia, abrir conta numa corretora e conseguir reservar parte da renda mensal.

No começo de nossas carreiras, o nosso principal ativo é o tempo de vida que temos pela frente, aliado à disposição para trabalhar. Muitos que alcançam a independência financeira o fazem trabalhando no começo da vida, assumindo um padrão de consumo abaixo do que poderia ser usufruído gastando todo o salário ou os lucros de um empreendimento. Em linhas gerais estas pessoas compram ações das melhores empresas de capital aberto, bem como cotas de fundos imobiliários. Estas operações não exigem grandes aportes mensais: o excedente da renda trabalhada é um bom começo.

Colheita negativa

Há quem entre na Bolsa com o objetivo de especular, comprando ações de empresas acreditando na valorização dos papéis para venda futura. Existem investidores que operam com análise gráfica, tentando antecipar as movimentações do mercado financeiro para tomar as decisões de compra e venda dos papéis. Aqueles que fazem várias operações diárias de prazos exíguos praticam o Day Trade, buscando recolher lucros diários na Bolsa de Valores.

Estes investidores queimam um canavial por dia. Se tirarem o olho dos monitores que acompanham a variação das cotações, ficam sem renda. O lado irônico de tal estilo de investimento é que muitos traders colhem prejuízos, afugentando os leigos da Bolsa de Valores. É por isso que você não conhece um trader bilionário. Mas a Bolsa faz sim, notórios bilionários – Luiz Barsi Filho é um deles. Ele alcançou sua fortuna por outro caminho: através do Value Investing.

Renda passiva através de dividendos

O Value Investing é um modo ortodoxo de investir na Bolsa de Valores, sempre com o objetivo de longo prazo, através da análise fundamentalista das melhores empresas – aquelas capazes de atravessar as piores crises políticas e econômicas – as que justamente geram grandes oportunidades para os investidores conscientes que, entre outras qualidades, são disciplinados que exercitam a paciência.

As empresas mais sólidas do mercado financeiro operam em atividades perenes, pouco sujeitas à ação de concorrentes diretos e de revoluções tecnológicas. Elas trabalham com considerável margem de lucro, tendo gestão eficiente, crescimento gradual e constante. E o melhor: elas dividem parte de seus rendimentos com os acionistas minoritários, justamente na forma de dividendos e juros sobre o capital próprio.

Existem empresas que pagam dividendos uma vez ao ano. Outras empresas pagam dividendos semestrais ou trimestrais. Algumas pagam os dividendos mensalmente. Conforme o montante que se aplica na compra de ações, é possível obter retorno anual de 9, 12, e até 18% sobre capital investido. Um valor mínimo de referência para tal retorno seria de 6% no chamado Dividend Yield, como preconizado no livro de Décio Bazin: “Faça fortuna com ações antes que seja tarde”.

Os fundos imobiliários também pagam dividendos: a safra deles costuma ser mensal. Ao invés de ofertar ações, os fundos imobiliários operam com cotas, onde os cotistas são donos de grandes empreendimentos rentáveis e papéis atrelados ao mercado de imóveis. Tais fundos são menos voláteis do que as empresas convencionais, embora com menor potencial de valorização ao longo do tempo – por isso representam um investimento mais conservador em renda variável.

Reinvestir os dividendos para cortar o caminho até a independência financeira

Quando você planta um pé de oliveira, provavelmente ele não dará frutos em quantidade significativa em curto prazo. Mas quando gerar é importante que tais frutos sejam aliados da renda trabalhada, para que seja possível adquirir novas árvores. Com o tempo, a diversificação será um percurso natural a seguir. A monocultura é arriscada tanto na atividade agrícola quanto na atividade financeira. Com estudos e experiência, o investidor poderá ser dono de ativos de primeira linha.

Este contexto deixa claro que o investidor de valor, que pensa no longo prazo, adota a estratégia do Buy and Hold (em português: Comprar e Abraçar) – tão difundida pelo megainvestidor norte americano Warren Buffet em suas cartas anuais para os acionistas da Berkshire. É mantendo boas ações e cotas de fundos numa carteira que o investidor se beneficiará dos juros compostos, que um dia fará a bola de neve girar.

No começo, a renda trabalhada pode significar até 100% da renda de um indivíduo. No entanto, se ele for um investidor de ativos que geram dividendos, a porcentagem da renda passiva, reaplicada diligentemente, aumentará a ponto de suplantar o valor da renda trabalhada. A independência financeira se dará quando a renda passiva, estruturalmente sustentável, for suficiente para manter o padrão de consumo adotado pelo investidor.

Neste ponto, você poderá escolher se continuará trabalhando ou não. A diferença é que você poderá trabalhar por prazer, não por necessidade. Será preciso continuar cuidando da sua renda passiva? Sim. Você poderá fazer disso a sua atividade principal, inclusive. Mas você terá mais tempo para fazer aquilo que aprecia.

Assessoria para obtenção de ativos que geram dividendos

Existem centenas de empresas e fundos imobiliários listados na Bolsa de Valores. Encontrar as melhores oportunidades de investimentos é uma tarefa complexa, diante da variação constante do mercado financeiro. Uma boa oportunidade de compra hoje poderá não ser interessante no dia seguinte. É preciso contar com fontes de informações confiáveis – e filtradas – para tomar a decisão correta.

Poucas casas de consultoria em investimentos trabalham com o foco em Value Investing. A Suno Research nasceu para ser a principal referência neste segmento. Ao fazer uma Assinatura Premium com a Suno, você terá acesso a relatórios focados na obtenção dos melhores ativos que geram dividendos. Os dividendos são os frutos da independência financeira.

ACESSO RÁPIDO
Jean Tosetto
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11 comentários

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  • Célia 2 de junho de 2019
    Operacionalmente como é reinvestir os dividendos? Tenho esta dúvida pois os dividendos caem na conta da corretora e eu aplico o montante em alguma ação aleatoriamente. Existe a possibilidade de eu definir com a empresa pagadora o reinvestimento na mesma? Tenho essa dúvida. ObrigadaResponder
    • Jean Tosetto 4 de novembro de 2019
      Prezada Célia, Não existe receita fixa que vale para todos. Então, relatarei o que eu faço, em linhas gerais: um aporte por mês, no melhor ativo do momento para a minha estratégia de investimento no longo prazo (no meu caso, ações de empresas boas pagadoras de dividendos ou fundos imobiliários). Este aporte é feito com dois tipos de recursos: dividendos recebidos no mês somados com o dinheiro poupado ganho no trabalho. Por vezes o segundo aporte no mês é justificado por um recebimento de recursos extraordinários. Em todo caso, com aportes concentrados fica mais fácil controlar a carteira de investimentos, inclusive no momento da declaração anual do imposto de renda.Responder
  • Ana Cláudia 3 de junho de 2019
    Deus o inspirou. Como fez com Salomão, provavelmente, pq é uma leitura profunda e simples ao mesmo tempo, além de didática e que inteligentemente se vale da técnica de Jesus, pelo uso das metáforas.Responder
    • Jean Tosetto 4 de novembro de 2019
      Muito me alegra ler seu comentário, prezada Ana Cláudia. Espero fazer jus às suas palavras sempre que escrever um artigo novo para a Suno.Responder
  • Rafael 3 de novembro de 2019
    O papel que a suno está desenvolvendo no que se refere à educação financeira é muito importante, levando em consideração que este pode ser o momento que muitos brasileiros terão que migrar seus recursos para renda variável, dado o momento econômico que vivemos. Parabéns pela iniciativa, vocês tem cotidianamente ampliando meus horizontes nesse adorável mundo novo.Responder
    • Jean Tosetto 4 de novembro de 2019
      Caro Rafael, contamos com você para ajudar na divulgação do conteúdo que a Suno desenvolve não apenas pensando em seus clientes, mas na formação de cada mais investidores para o mercado de capitais. Uma nação forte não existe sem uma grande parcela da sociedade que poupa e investe com inteligência.Responder
  • ISAIAS SANTOS 17 de novembro de 2019
    ÓTIMO TEXTO, PRODUTIVO, PARABÉNS!!!!!!!Responder
    • Jean Tosetto 15 de janeiro de 2020
      Obrigado, Isaias. Sempre que pudermos vamos publicar mais artigos nesta linha.Responder
  • Gabriel 9 de janeiro de 2020
    Excelente texto! Já sou cliente da Suno, mas não me canso de ler e reler alguns artigos. Uma dúvida que tem poluído meus pensamentos há alguns meses é com relação à reforma tributária e as novas imposições do fisco que poderão a vir em 2020, principalmente com relação aos dividendos. Gostaria de saber sua opinião Jean, quanto a solidez dos investimentos com foco em dividendos, principalmente em um momento de incerteza tributária para nós investidores de longo-prazo. Vocês acham que a tributação sobre os dividendos passa?Responder
    • Jean Tosetto 15 de janeiro de 2020
      Prezado Gabriel, não tenho bola de cristal, nem pretensão de adivinhar futuro. Minha postura estoica é pensar no que de pior pode acontecer: a tributação dos dividendos ser aprovada. Imagino que isto deva provocar quedas nas cotações das ações pagadoras de dividendos e dos fundos imobiliários, num momento de volatilidade. Neste caso, o que devo fazer? Aumentar a reserva para futuras oportunidades. Se a tributação não for aprovada pelo Congresso ela seguirá lá, pois outra "crise" pode ocorrer. O ano de 2020 será pautado pelas eleições municipais. Acredito que seja difícil que o Congresso aprove qualquer mudança sobre tributos neste ano. Mas em 2021 essa pauta será posta, muito provavelmente. Mas vamos pensar no longo prazo: em 2031 ou quem sabe em 2041; até lá a estratégia de longo prazo baseada em dividendos seguirá seu rumo normalmente, posto que entre os anos de 1960, quando sistema financeiro nacional foi reformado, e os anos de 1990, havia tributação sobre os dividendos. Ainda assim, investidores como o Decio Bazin seguiam firmes nos aportes dos melhores papéis.Responder
  • Luciana 15 de julho de 2020
    Sou novata, estou fazendo alguns estudos pra ter certeza de que estarei fazendo tudo certo, e suas informações estão sendo de extrema importância para meu aprendizado, obrigada por compartilhar seus conhecimentos.Responder