Importante sempre lembrar que o Fiikipedia é um ambiente colaborativo. O artigo de hoje foi escrito por SÉRGIO FARIA – ele é deficiente visual (cego) e nos brindou com um artigo fantástico.
Sérgio Ramos de Faria é formado em administração (UNIFEI), tem especialização em comércio exterior (FGV), uma pós-graduação em análise e desenvolvimento de sistema e outra pós-graduação em Gestão de projetos (USP), além de ser pessoa com deficiência visual e investidor em fundos imobiliários, usuário de cão guia e tester em recursos de acessibilidade.
Vamos ao artigo do Sérgio Faria:
Assim como a grande maioria dos investidores em FIIs, eu adquiro conhecimento sobre esse e outros temas de meu interesse assistindo vídeos no YouTube e lendo livros.
Você, leitor, poderia perguntar: “então, o que há de diferente na sua história?”
Bem, a diferença é que sou cego e os conteúdos disponibilizados não são efetivamente acessíveis. Mas, vou contar um pouco da minha história como investidor:
Comecei a comprar algumas ações por volta de 1986. Naquela época comprávamos e vendíamos ligando para o telefone da corretora e acompanhávamos as cotações pelos jornais impressos. Claro que, eu contava com a ajuda dos amigos para me dizer a cotação, as notícias do mercado, etc. Mas, ainda assim criamos um grupo que estudava um livro sobre o mercado financeiro.
Em 1990, houve uma reestruturação na empresa e perdi contato com grande parte dos meus colegas investidores. Tendo em conta que eu não tinha mais os parceiros que me ajudavam no acompanhamento do mercado, acabei por vender minhas posições e ficar fora do mercado até 2007.
Nessa época, percebi que poderia voltar a investir na Bolsa porque a maioria das Informações estavam disponíveis pela internet. Quando algo não era acessível para quem utiliza um software leitor de tela, eu recorria aos olhos da esposa.
Como eu nunca fui daqueles que sai atirando aleatoriamente, nessa época fiz um curso resumido de análise fundamentalista com o prof. Mauro Calil.
Por motivos pessoais, novamente, fiquei fora do mercado até 2018 quando um amigo me disse: “por que você não investe em Fundos Imobiliários?
Peguei umas dicas com ele e comprei um Fundo de Fundos e perdi cerca de 15% do meu investimento. Entretanto, esse foi o preço do meu aprendizado, pois, nesse momento, eu que sempre achei que aplicar em imóveis seria interessante, percebi que fundos imobiliários era uma excelente oportunidade de se investir no mercado imobiliário, mas, eu precisava entender melhor os conceitos.
Comecei a procurar conteúdo no Youtube sobre FIIs e encontrei materiais do Arthur Vieira de Moraes que, logo nos primeiros vídeos que eu assisti, entrevistou o André Bacci. Imediatamente entrei na Amazon, visto que os livros no formato EPUB para o Kindle, em geral, são acessíveis aos leitores de tela para deficientes visuais e comprei – Introdução aos Fundos de Investimento Imobiliário, Bacci André L F S.
Em paralelo, encontrei os vídeos do Tiago Reis e, em seguida, li via Kindle o livro Guia Suno Dividendos: A estratégia para investir na geração de renda passiva, Reis Tiago e Tosetto Jean.
Tendo em conta que eu sou da área de TI e gosto de programação de computadores, mesmo estando na área de gestão a mais de 20 anos, ainda não perdi o jeito de programador e resolvi criar um programinha para tratar os dados de Fundos Imobiliários que extraía da Internet. A saída desse programa é uma planilha Excel que me ajuda a fazer uma análise quantitativa, setorial, de 5 ou 6 indicadores, como: liquidez, vacância, percentual pago de dividendo, patrimônio, P/VP, quantidade de ativos, e outros.
Bem, nesse momento, comecei a ficar mais confiante e montei uma carteira com uns 7 FIIs, todos agora estudados, pensados e não mais indicações tiradas das famosas carteiras recomendadas. Com isto, passei 3% para 17% da minha carteira em FIIs.
Nesses últimos 2 anos, tenho assistido muita gente que produz conteúdo sobre o mercado financeiro, especialmente sobre fundos imobiliários. Evidente que, não estudei apenas sobre FIIs. Também estudei um pouquinho sobre opções, mas, seja pela falta de acessibilidade com robôs, ou pelo antigo interesse pelo mercado de imóveis, são os FIIs que efetivamente me encantam.
Claro que tem gente que, depois que você tem algum conhecimento, não vale a pena assistir porque acabam sendo muito superficiais e é justamente aí que você começa a descobrir o pessoal que realmente traz conteúdo relevante, que faz entrevistas de qualidade e que contribuem no seu aprendizado.
Comecei a seguir o Arthur Vieira, já citado acima, professor Baroni, Tiago Reis, NOD e outros. Com isso, passei para o patamar da análise qualitativa.
Agora, entendendo melhor perfil e estratégias de gestores; processos de crescimento dos fundos; qualidade dos ativos; respostas dos gestores à crise. Novamente recorri aos livros, entre eles:
- 101 Perguntas e Respostas Para Investidores Iniciantes, Reis Tiago;
- Guia Suno Fundos Imobiliários: Introdução sobre investimentos seguros e rentáveis, Baroni Marcos e Bastos Danilo;
Apesar de alguns relatórios gerenciais terem uma certa quantidade de gráficos, o que não é amigável para pessoas com deficiência visual, procuro juntar informações dos comentários dessa galera que traz conteúdo relevante, com o conhecimento obtido nos livros, nas entrevistas e no conteúdo textual que obtenho nos relatórios gerenciais, comunicados e fatos relevantes para fazer minhas análises.
Apesar da pandemia, daquele fatídico 18/março com 03 circuit breakers, minha carteira hoje tem 40% em FIIs, dividida em 12 fundos, sendo: 02 de lajes, 03 de shoppings, 02 de logística, 03 híbridos e 02 de títulos de valores mobiliários.
Minha carteira é muito mais voltada ao futuro, saída da crise, fim da pandemia, mas, como eu sempre digo: essa é a minha maneira de ver, a minha estratégia, cada um deve fazer a sua.
Recomendo apenas que estudem, pois, todas as vezes que eu comprei só porque era uma recomendação, não foi um bom negócio.