Setores cíclicos: o que são, como funcionam e como investir
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A economia de um país é composta por diversos setores, sendo que alguns deles são denominados como setores cíclicos.
Ou seja, são segmentos da economia que possuem empresas cujos desempenhos econômicos estão vinculados a variados fatores.
Nesse sentido, o consumo cíclico é um setor caracterizado por empresas que possuem seu desempenho fortemente influenciado por variáveis econômicas como inflação, taxa de juros, variação do câmbio etc.
Dessa forma, as vendas desse segmento serão afetadas por esses fatores econômicos. Portanto, para conhecer mais sobre os setores cíclicos, acompanhe e veja com detalhes as principais características e exemplos referentes aos setores.
O Que São Setores Cíclicos?
Na economia, existem vários setores denominados de cíclicos. Sendo que esses segmentos podem mudar conforme as oscilações dos indicadores macroeconômicos, como:
- PIB;
- Taxa de juros;
- Consumo da população;
- Dentre outros.
Então, como funcionam os setores cíclicos? Para se encaixar como um setor cíclico, o segmento econômico costuma ter algumas características. Elas são:
- São setores que dependem diretamente do crescimento econômico;
- Sofrem impactos em períodos de recessão;
- Vulneráveis a oscilação da taxa de juro;
- Entre outras.
O Que É Uma Empresa Cíclica?
Companhias pouco resilientes a determinadas variáveis como a inflação, taxas de juros, costumam ser consideradas como empresas cíclicas.
Assim, uma empresa cíclica geralmente é impactada por crises, variações nas taxas de câmbio ou outros fatores econômicos.
Por exemplo: com a alta dos juros, diversos setores da economia terão dificuldades, como as construtoras. Assim, ao vender suas unidades imobiliárias, as construtoras, por vezes, conseguem efetivar o negócio através de financiamentos. Então, com os juros elevados, os financiamentos se tornam mais caros e, portanto, acabam se tornando menos viáveis para a população. Dessa maneira, as vendas são fortemente impactadas, principalmente se os altos juros se mantiverem por mais tempo.
Agora se os juros estiverem em queda, permanecendo mais tempo em um patamar baixo, as vendas das construtoras podem subir significativamente, já que os financiamentos estarão muito mais acessíveis.
Por isso, antes de investir em ações é fundamental conhecer bem a empresa e o seu ramo de atuação. Para determinar se ela faz, ou não, parte de um setor cíclico.
Exemplos de Setores Cíclicos
Dentre os setores da economia que podemos definir como cíclicos existem:
Setor de Consumo Cíclico: Aqui podemos identificar diversos segmentos da economia, como o: automobilístico, vestuário, eletrodomésticos e turismo. Todas essas atividades possuem algo em comum: as suas vendas são impactadas negativamente com a queda da renda da população. Quando as pessoas deixam de ter dinheiro, ou não conseguem mais ter acesso a financiamentos e empréstimos, as vendas de carros, roupas, viagens, e eletrodomésticos caem.
Construção Civil e Imobiliário: Comprar um imóvel não é uma tarefa simples, e para esmagadora parte da população, envolve contrair um financiamento. Nesse sentido, quando a taxa de juros está elevada, a população fica sem acesso às linhas de crédito devido aos juros e o acesso mais restritivo. Assim, a construção civil e imobiliária sofrem com a queda de vendas.
Commodities: No segmento de Commodities, temos as áreas de Mineração, Petróleo e do Agronegócio. Todos esses segmentos são impactados pelos preços do mercado. Ou seja, quando há menos petróleo no mundo e a demanda aumenta, o preço da commodity costuma subir. Mas se o consumo cai, o petróleo cai. Essa “briga” entre oferta e demanda ocorre de maneira geral com praticamente todas as commodities, incluindo os segmentos do agronegócio e da mineração.
Financeiro: Bancos e seguradoras são fortemente impactados pela política monetária. Portanto, quando o Banco Central decide aumentar a taxa de juro, os juros das linhas de crédito sobem. Fato que contribui para uma redução dos empréstimos e financiamentos. Na esteira disso, as seguradoras também sofrem perdas com a redução das vendas de seguros.
Setores Cíclicos na Bolsa de Valores
Depois de conhecer um pouco mais sobre as empresas e os segmentos cíclicos, chegou o momento de identificar quais são as ações que fazem parte de setores cíclicos na bolsa.
Para encontrar tais ações é simples. Primeiro, o investidor precisa levantar quais são os setores cíclicos, como por exemplo: o segmento de commodities. Depois, será necessário procurar por ações que representem o setor. No caso das commodities um ótimo representante é a Vale do rio Doce, ou VALE3.
Já no segmento de petróleo há a Petrobras (PETR4). Na construção civil temos a Cyrela (CYRE3) e por fim no setor aéreo, uma forte representante é a Azul (AZUL4).
Setores Cíclicos vs Setores Defensivos
Não são todas as empresas que se enquadram como cíclicas. Existem algumas companhias mais resilientes, que são denominadas de defensivas.
Portanto, na hora de conduzir uma análise sobre as ações disponíveis no mercado, é importante que o investidor compare aquelas empresas dos setores cíclicos vs setores defensivos.
Exemplos de empresas defensivas
Para exemplificar esta situação, vamos iniciar falando sobre as empresas referentes a setores mais resilientes. Pense no setor de energia. Geralmente, este setor é fortemente influenciado pelo Estado. As receitas das empresas que atuam neste segmento são dependentes de contratos de concessão e tarifas estipuladas pelo governo.
Os fluxos de caixa nesse setor são altamente previsíveis quando comparados com outros setores da economia. Isso se deve aos contratos de concessão e ao produto comercializado.
Em se tratando de energia, independentemente da situação econômica do país, as pessoas e indústrias continuarão consumindo o produto, o que torna a volatilidade das receitas e lucros no setor muito menor.
A indústria farmacêutica também se enquadra bem nesse exemplo. Os fármacos são produtos necessários mesmo em tempos de crise. Caso você fique doente durante uma crise econômica, muito provavelmente você irá a uma farmácia adquirir um medicamento que trate os sintomas da doença.
Exemplos de empresas cíclicas
Agora pense em setores altamente afetados por crises econômicas. Provavelmente você está pensando em setores onde os produtos são supérfluos na vida das pessoas. As indústrias de aviação e automobilística, por exemplo, são altamente afetadas pela atividade da economia.
Durante uma crise econômica, provavelmente você comprará remédios caso esteja doente, mas pensará duas vezes antes de trocar de carro ou de viajar para fora do país.
Esse fato reflete no desempenho das empresas destes setores. Olhemos mais de perto o setor da aviação. Em termos de custos, a indústria é altamente dependente de commodities, seja para a fabricação de aeronaves (metais e derivados de petróleo), seja para transportar passageiros (combustível derivado do petróleo).
Neste lado da cadeia (fornecedores), os custos dependem muito da volatilidade do preço das commodities e da variação cambial, uma vez que estas são cotadas em dólar.
Na outra ponta da cadeia (clientes), as receitas são altamente dependentes da atividade econômica. Em uma economia em crescimento, com baixas taxas de desemprego e aumento real do poder de compra da população, as pessoas tendem a viajar mais. O que impulsiona os resultados das companhias pelo aumento das receitas e ganhos de eficiência através da redução dos custos por passageiro transportado (aumento na ocupação das aeronaves).
Crises econômicas e seus impactos no setor aéreo
Para compreender melhor o efeito das crises econômicas no setor aéreo, olhemos para o crescimento do PIB do Brasil dentro do período de 1996 até 2018.
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Entre 1996 a 2018 economia brasileira passou por duas grandes crises, sendo elas a crise de 2008-2009, reflexo da crise imobiliária norte americana e a crise de 2013-2016, onde o Brasil vivenciou pela primeira vez na história um biênio com crescimento negativo do PIB (2015/16).
Tais crises impactaram significativamente as companhias de aviação que atuam no país.
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As ações da Gol que eram negociadas em setembro de 2006 a mais de R$75,00, passaram a ser negociadas em abril de 2009 por menos de R$7,00. Na crise de 2013-2016 o efeito se repetiu. As ações que estavam cotadas próximo a R$15,00 no início de 2013 chegaram a R$1,50 no início de 2016.
Algo semelhante aconteceu com outras companhias aéreas, como é o caso da LATAM.
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A ação que era negociada a aproximadamente US$16,00 em meados de 2007 perderam metade de seu valor e passaram a ser negociadas a US$8,00 no início de 2009. O efeito também se repetiu na crise 2013-2016. As ações que eram negociadas a US$24,00 em fevereiro de 2013 passaram a ser negociadas a US$5,00 em janeiro de 2016.
Obviamente as crises econômicas não foram os únicos fatores que contribuíram para a queda na cotação da ação, mas o impacto é claro.
Agora observemos alguns exemplos no setor de energia que, diferentemente do setor de aviação, foram muito menos afetados durante a crise.
Setores defensivos mais resilientes
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As ações da COELCE, que eram negociadas a aproximadamente R$25,00 em meados de 2007 estavam sendo negociadas no mesmo patamar 2 anos depois. Algo semelhante ocorreu na crise de 2013-2016. As ações que em meados de 2013 eram negociadas a aproximadamente R$40,00 se encontravam no mesmo patamar cerca de 3 anos depois.
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O mesmo ocorreu com a Energisa que tinha suas ações negociadas a aproximadamente R$13,00 em janeiro de 2013 e em janeiro de 2016 as ações estavam sendo negociadas no mesmo patamar.
Vantagens e Riscos de Investir em Setores Cíclicos
Apesar da volatilidade dos setores cíclicos, esses segmentos podem proporcionar ótimos resultados, quando a economia e o mercado estão a favor. Desse modo, confira a seguir, as principais vantagens de se investir em empresas que fazem parte de setores cíclicos da economia.
Alto potencial de valorização em momentos de crescimento econômico: Como as empresas que pertencem a setores cíclicos costumam ser bem sensíveis às movimentações do mercado e da economia, quando “os ventos estão favoráveis” tais empresas costumam entregar desempenhos superiores à média do mercado. Por exemplo, quando o petróleo está em alta, com forte demanda e preços elevados, a Petrobras costuma performar bem, já que o seu principal produto, o petróleo, está mais caro e com forte demanda.
Possibilidade de ganhos expressivos ao identificar o momento correto de entrada no setor: Aqui temos uma vantagem que pode ser difícil de aproveitar. Mas, se o investidor conseguir identificar um ponto de entrada, os ganhos poderão ser expressivos. Para muitos a economia é cíclica. Portanto, por alguns períodos a taxa de juro pode estar elevada, em outros, não. Desse modo, é importante que o investidor esteja atento às noticias e principalmente aos indicadores econômicos, como PIB, inflação, juros e outros. Assim, quando alguma tendência surgir, como uma eventual queda dos juros, o investidor pode se posicionar em algum setor cíclico que possa ser beneficiar de tal movimentação. No caso da queda dos juros, um segmento que pode se beneficiar é o de consumo, por exemplo.
Por outro lado, os setores cíclicos também podem gerar grandes prejuízos aos investidores. Dentre os principais riscos, há:
Alta volatilidade e possibilidade de perdas em momentos de crise: Mesmo quando tudo está favorável, crises repentinas podem surgir, nesse sentido, os ganhos podem se transformar em perdas em poucas horas. Crises recentes como a da COVID-19 são uma prova disso. Pouco tempo antes da pandemia, o mundo estava caminhando com certa tranquilidade, sem grandes conflitos e com os países progredindo. O Brasil até aquele momento estava com uma taxa de juro baixa e economia em expansão. Mas, com o surgimento da COVID-19, as bolsas de todo mundo foram impactadas, gerando prejuízos a muitos investidores.
Maior necessidade de monitoramento da economia e do mercado: Investir em empresas que pertencem a setores cíclicos vai exigir mais atenção do investidor. Não há como alocar recursos em tais empresas sem permanecer mais tempo acompanhando as notícias. Ficar atento aos indicadores econômicos é uma tarefa essencial, para aqueles que pretendem investir em setores cíclicos.
Como Investir em Setores Cíclicos?
Ao analisar as vantagens e desvantagens de investir em empresas de setores cíclicos, fica claro que não é uma tarefa fácil. Então, como investir em setores cíclicos e aproveitar as oportunidades desses segmentos?
Com o intuito de evitar perdas com a volatilidade do mercado, uma das primeiras estratégias que deverão ser aplicadas pelo investidor é a diversificação.
Ao diversificar a carteira, o risco de perder “tudo”, ou grande parte do patrimônio é menor, já que os recursos investidos estarão pulverizados em diferentes ativos. Desse modo, os riscos para a carteira e o investidor diminuem consideravelmente.
Acompanhar a economia de perto é outra estratégia que deverá ser aplicada para investir em setores cíclicos. Como vimos, os setores cíclicos sofrem influência da economia e do mercado. Assim, antes de investir em qualquer empresa, fique atento às notícias, dando um foco especial nos indicadores econômicos. Dessa maneira o investidor poderá identificar os melhores momentos para investir, ou não.
Dicas para Identificar Oportunidades em Setores Cíclicos
Existem algumas dicas que podem ser muito úteis para investir em empresas pertencentes a setores cíclicos. Conheça algumas a seguir:
Monitorar tendências de mercado e política econômica: Amplamente abordado ao longo do artigo, acompanhar as tendências de mercado e da política econômica do país, como do próprio mundo, é muito importante. Sem esse acompanhamento, o investidor terá sérias dificuldades em compreender a volatilidade do mercado, como também as oscilações do ativo em questão.
Analisar indicadores como PIB, desemprego, taxa Selic e confiança do consumidor: Além das políticas econômicas e do mercado, o investidor também deve acompanhar os principais indicadores econômicos, como PIB, desemprego e a taxa de juro, que no Brasil é a Selic. Acompanhar os indicadores econômicos de outros países, como da China e dos Estados Unidos, também é importante, visto a relevância de tais nações no contexto global.
Estudar o histórico de empresas cíclicas para entender padrões de comportamento ao longo do tempo: Para encerrar, não se esqueça de analisar o histórico das companhias. Através do histórico, o investidor terá condições de traçar um paralelo com o atual contexto global. Desse modo, fica mais fácil identificar porque a ação desempenhou bem em determinado período, ou porque ela derreteu em tal época.
Conclusão
Este texto visa mostrar a importância de se compreender as empresas e seus setores de atuação. Não podemos apenas olhar internamente para a empresa acreditando que conhecemos profundamente o seu negócio. É necessário também fazer uma análise externa para identificar qual é a sensibilidade do setor quanto às variáveis econômicas.
Setores cíclicos podem ser investimentos muito interessantes em momentos de crescimento econômico, onde as receitas e lucros das empresas crescem vertiginosamente. Entretanto, investir nestes setores em um momento errado do ciclo pode comprometer boa parte do capital investido.
É necessário conhecimento e muita cautela em se tratando de investimentos em empresas cíclicas. Sendo assim, antes de conduzir qualquer investimento, faça uma boa análise sobre o segmento de atuação e tente projetar como a empresa vai reagir às eventuais oscilações do mercado. Empresas mais resilientes costumam ser defensivas, enquanto as mais sensíveis acabam sendo caracterizadas, como empresas cíclicas.
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