Na maioria dos mercados acionários do mundo, quando o investidor escolhe qual empresa investir, ele automaticamente, determinará qual papel irá comprar. Pois existe somente uma classe de ação.
No entanto, ao contrário do que acontece lá fora, no Brasil o investidor precisa escolher qual a classe de ação irá incluir na sua carteira: ordinárias, preferenciais ou units.
Desse modo, muitos investidores têm dúvida sobre qual classe de ação comprar. Sendo assim, esses três tipos de ações têm suas peculiaridades e individualidades, mas nada muito complicado de se entender. Veja a seguir mais detalhes sobre as ações ordinárias, preferenciais e units.
O que são Ações Ordinárias (ON)
Ações ordinárias são as ações representadas pelo dígito 3 no final do código, elas são caracterizadas por garantir direito de voto ao acionista.
Porém, para do pequeno investidor, esse direito é bastante limitado, já que seu voto pode ser bastante insignificante perto dos grandes investidores.
Se o acionista tiver um lote de 100 ações, por exemplo, seu voto será irrelevante quando comparado aos demais sócios.
É importante destacar que, apesar de ser um acionista e ter direito a voto, o possuidor de ações ordinárias não é responsável pelas dívidas da empresa.
Outra característica bastante interessante de quem possui esse tipo de ação é o “tag along”. Esse benefício se faz presente em caso de uma eventual mudança no controle acionário da empresa.
Com o “tag along”, a companhia que está comprando a parte pertencente ao bloco controlador é obrigada a fazer uma oferta pública de aquisição das ações ordinárias pertencentes aos minoritários de, no mínimo, 80% do valor pago pela aquisição das ações do grupo controlador.
Nesse sentido, a Lei das Sociedades Anônimas garante que todo acionista com ações ordinárias tenha direito de participação no prêmio de controle.
Geralmente, por este motivo, em casos de mudança de controle acionário, as ações ON, acabam se valorizando muito, em comparação às Preferenciais (PN).
Para finalizar, a codificação das ordinárias é sempre em quatro letras mais o número 3. Ex.: PETR3 – Ação ordinária da Petrobras.
O que são Ações Preferenciais (PN)
No Brasil diversas empresas possuem ações preferenciais nominativas, também chamadas de “Ações PN“.
Esse tipo de ação não dá direito de voto ao acionista, contudo, são “preferenciais” no recebimento de dividendos e em caso de liquidação da empresa.
Ou seja, no caso de falência ou outro motivo de fechamento da companhia, os possuidores de preferenciais têm maiores chances de recuperar parte de seus investimentos.
No Brasil, em geral, as ações preferenciais possuem melhor liquidez em bolsa que as ordinárias.
Há quem diga que as preferenciais protegem menos o acionista minoritário, pois não lhe dão o direito de votar em assembleia.
Além disso, em caso de venda da empresa, as ações preferenciais não lhe garantem o “tag along”, ou seja, o direito de participar do prêmio de controle.
Em contrapartida, muitos consideram que as ações preferenciais são melhores para os pequenos investidores, já que são mais fáceis de serem negociadas (liquidez) e dão preferência no recebimento de dividendos, caso a empresa tenha lucro.
As ações preferenciais podem estar divididas em classes diferentes, o que gera códigos como PNA e PNB, por exemplo. Essa divisão tem como objetivo, segregar determinados conjuntos de características específicas. Sendo que isso varia de empresa para empresa.
Vale ressaltar que se a empresa não pagar dividendos por três anos consecutivos, os detentores de ações PN adquirem direito a voto nas assembleias.
Geralmente, a codificação das preferenciais apresenta 4 letras mais um número, que pode ser 4, 5, 6, 7 ou 8. Ex.: ITUB4 – Ação preferencial – Itaú Unibanco.
O que são Units?
Menos comuns no mercado brasileiro, as Units são ativos compostos por mais de uma classe de valores mobiliários como, por exemplo, um conjunto de ações ordinárias e preferenciais.
Em outras palavras, uma Unit, ou certificado de depósito de ações, não é uma ação, mas sim um “pacote” de classes de ativos. Dessa maneira, esse pacote pode ser formado por ações ordinárias, preferenciais e bônus de subscrição.
Normalmente, quem procura esse tipo de investimento adquire alguns benefícios semelhantes à ações ordinárias e preferenciais, como potencial de boa rentabilidade no longo prazo, recebimento de dividendos periodicamente, investimento mais acessível, e boa liquidez, o investidor poderá negociar Units quando quiser, de forma semelhante às ações preferenciais e ordinárias, por exemplo. É possível consultar a composição das UNITS no site da BM&FBOVESPA.
O mais comum no mercado são Units formados por mais de uma classe de ações, como por exemplo: 1 ação ordinária (ON) + 2 ações preferenciais (PN).
A codificação das Units possui quatro letras e mais o número 11. Ex.: SANB11 – Unit – Santander BR
Qual a melhor alternativa dentre elas?
Não há como especificar qual é o melhor tipo de ação para se adquirir, pois cada uma tem sua característica. Porém, é importante que o investidor saiba quais são as características. Isso vai ajudar o investidor a fazer uma compra de maneira coerente com seus interesses.
Assim, existem investidores que tendem a ter uma preferência por ordinárias, pois dessa forma se faz parte da classe votante da empresa. Mas como dito antes, a quantidade de ações determina muito a influência do investidor no controle da organização.
Por outro lado, existem aqueles que se identificam mais com as Preferenciais, pois muitas vezes essas ações são mais negociadas na bolsa. Ou seja, têm mais liquidez. Sem essa análise, muitas vezes o investidor pode comprar um papel e ser penalizado pela baixa negociação do mesmo. Não conseguindo, assim, vendê-lo no momento em que desejar.
No geral, é sempre importante analisar as regras de Governança Corporativa de cada companhia. Pois é ela quem define os direitos dos acionistas, já que em alguns casos, dependendo da empresa, ações ON e PN podem ter os mesmos benefícios.
Para quem não se identifica com esse assunto – Governança Corporativa, podemos comentar que, para dar garantia aos investidores, a Bolsa e a CVM exigem que as empresas forneçam uma série de informações ao mercado.
Tais informações estão disponíveis na CVM, na Bolsa e através da seção de Relacionamento com o Investidor (RI) das companhias de capital aberto.
Um modelo ideal de governança, com mais exigências, foi desenvolvido pela Bovespa. A bolsa criou uma forma de estimular as empresas a serem mais abertas, transparentes e cuidadosas com o pequeno investidor.
É como um selo ou certificação, que atesta a adoção de boas práticas. Na prática, este processo apresenta três patamares. Cada nível adere às exigências do anterior, e adiciona mais algumas. Os dois primeiros níveis são chamados N1 e N2, e o terceiro, é o Novo Mercado (NM). O NM é o mais completo deles.
O Novo Mercado é um “selo” de qualidade que a empresa recebe da Bolsa caso adote critérios mais rígidos de Governança – portanto mais transparência e mais garantias ao pequeno investidor. A empresa adere ao selo se quiser, não tem a obrigação de fazê-lo, mas é claro que as que adotam esse modelo ganham mais credibilidade perante o mercado e o investidor pequeno.
Para o pequeno investidor, é muito menor a chance de uma empresa que adota essas práticas apresentar alguma surpresa desagradável.
Mas vale ressaltar que, mesmo com selo, existem empresas que apresentam ações PN que respeitam o minoritário, ao passo que existem empresas NM que desrespeitam.
Portanto, a governança corporativa é muito mais que um “selo”, e é importante que o investidor se atente a isso quando estiver em processo de análise de determinado papel.
Comparação entre Ações ON, PN e Units
Para mostrar melhor, quais são as principais diferenças entre as ações ON, PN e Units, veja a tabela a seguir:
Olhando nossa tabela, fica evidente que as Units possuem grande vantagem quando comparadas às ações ordinárias e preferências.
Contudo, as Units não são tão comuns, como as ações ON e PN. Isso significa que o investidor não conseguirá encontrá-las facilmente.
Já as ordinárias são as ações mais comuns no mercado. E por fim, as preferências, são as ações que estão desaparecendo, aos poucos da bolsa. A grande vantagem delas é a liquidez e a preferência pelo recebimento de dividendos.
Exemplos Práticos de Empresas com Ações ON, PN e Units
O que não falta na bolsa de valores, são bons exemplos de ações ordinárias. Por exemplo, no setor de bebidas, temos a ABEV3, ou a Ambev.
No setor de locação veicular, temos a RENT3 (Localiza). Outra empresa extremamente importante para a economia brasileira, é a mineradora VALE3, ou a Vale do Rio Doce.
No caso das três empresas supracitadas, todas só possuem ações ordinárias no mercado. Desse modo, essas ações são extremamente vantajosas, já que possuem boa liquidez, Tag Along e direito a voto.
Agora, se você estiver procurando por ações preferenciais, ainda é possível encontrá-las na bolsa. O maior banco privado do país, ainda possui ações preferenciais. Estamos falando do Itaú, ou nesse caso, ITUB4.
No segmento de energia, temos a Transmissão Paulista, ou TRPL4. Esta empresa se destaca pelos bons pagamentos de dividendos.
Outra companhia com ações PN, é a Petrobras. A petroleira possui as ações PETR4, que são PN. Com o intuito de exemplificar as ações da classe PNA, temos a USIM5. A Usiminas é uma importante siderúrgica, criada no Brasil, em 1956.
Em resumo, ações PN, concedem ao investidor, a preferência para o recebimento de dividendos e são muito negociadas na bolsa. Mas, além disso, elas não têm muitas vantagens, já que elas não possuem Tag Along e tão pouco, direito a voto.
E para encerrar, vamos analisar algumas Units. Uma delas é o do banco Santander, SANB11 e a outra é do banco de investimentos, BTG Pactual, ou BPAC11.
No caso das Units, ambas possuem ações PN e ON em sua composição. Em SANB11 existe 1 ação PN e 1 ação ON. Já na Unit BPAC 11, há 2 ações PN e 1 ação ON. Portanto, essas Units possuem direito a voto, preferência no recebimento de dividendos, além do Tag Along.
Considerações para Escolher entre ON, PN e Units
Na bolsa de valores existem centenas de empresas com ações listadas. Muitas dessas empresas já estão no Novo Mercado. Assim o investidor que estiver interessado nelas, só poderá adquirir ações ON.
Mas existem empresas listadas a mais tempo que possuem as ações preferenciais e ordinárias.
Desse modo, caso o investidor esteja interessado em adquirir ações de uma empresa, com as duas classes, será preciso ficar atento a algumas características. Se as ações ordinárias não possuem liquidez, o investidor não terá muitas opções a não ser, investir mas preferências.
Contudo, se existe liquidez nas ações ON, então vale a pena comprá-las, garantido o Tag Along e o direito a voto. Em comparação às PN, as ON são muito mais vantajosas para o longo prazo. Por isso, a prioridade deve ser nelas.
Por fim, temos as Units. Se existem as PN, ON e Units, vale a pena investir nas Units, já que elas possuem tanto ações ordinárias, quanto preferenciais em sua composição.
Dessa maneira, o investidor terá o melhor dos dois mundos em um único ativo.
Conclusão
Com o surgimento do Novo Mercado, cada vez mais empresas listadas na bolsa, passam a negociar somente ações ON.
Conforme o tempo passa, a expectativa é que haja uma redução das ações preferenciais e Units. Porém, ainda existem muitas empresas com essas classes de ações listadas na B3.
Desse modo é muito importante compreender quais são as vantagens e desvantagens que as ações ordinárias, preferenciais e Units, possuem.
Por exemplo, visando o longo prazo e a segurança do investidor, a classe mais vantajosa é a ON. Enquanto a PN, concede preferência nos recebimentos de dividendos e por vezes, é mais líquida que as ações ON. Assim, as Units, surgem como uma opção de investimento que engloba, tanto ações ON quanto PN. Oferecendo as vantagens das duas classes.
Nesse sentido, antes de investir em ações, fique atento às vantagens e desvantagens de cada uma das classes de ações.
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