O ciclo da dívida de curto prazo
Nesta série de 3 partes apresentarei o funcionamento da economia segundo a visão do investidor bilionário Ray Dalio. A segunda parte apresentará os conceitos relacionados ao ciclo de dívida de curto prazo.
Como apresentado na Parte I, Dalio acredita que a economia é composta por uma série de transações que se repetem indeterminadamente. O crédito alimenta tais transações gerando oscilações de curto e longo prazo na economia.
O ciclo de curto prazo leva entre cinco e oito anos para ocorrer, enquanto o ciclo de longo prazo leva de setenta e cinco a cem anos. Quando as pessoas sofrem com a volatilidade, geralmente elas não se dão conta do cenário como um todo, pois elas acompanham dia a dia, semana a semana, enquanto os ciclos levam longos períodos para ocorrer.
Imaginemos uma economia sem crédito. Neste cenário, a única maneira de ampliar a renda dos indivíduos é aumentando a produtividade. O crédito, por sua vez, nos permite consumir mais do que produzimos quando contraímos a dívida, ao passo que nos força a consumir menos do que produzimos quando temos de pagá-la.
Assim, o crédito permite o aumento dos gastos por parte dos indivíduos e, como o gasto de uma pessoa é a receita de outra, o ciclo de crescimento se alimenta.
Vejamos o seguinte exemplo. Uma pessoa ganha 100 mil reais por ano e, pode solicitar um crédito de 10 mil reais com essa receita. Desse modo, a pessoa pode gastar 110 mil reais no ano, mesmo tendo produzido apenas 100 mil.
Como consequência, a pessoa que recebe 110 mil reais, poderá contrair 11 mil reais de dívida e, portanto, poderá gastar 121 mil reais no ano. Como a receita de um indivíduo é o gasto de outro, o aumento dos gastos leva ao aumento das receitas e vice versa, assim o ciclo se alimenta.
Este crescimento torna-se insustentável eventualmente e, neste ponto, ele reverte. Isto nos leva ao ciclo de dívida de curto prazo.
A medida que a atividade econômica aumenta, alimentada pela disponibilidade de crédito, vemos um momento de expansão. Esta é a primeira fase do ciclo.
O consumo continua a crescer, assim como as receitas. Quando a renda cresce em ritmo mais acelerado do que a produção, os preços aumentam. Então, entramos em um processo inflacionário.
A inflação excessiva trás problemas à economia e, portanto, o Banco Central, ao notar a alta dos preços, eleva a taxa de juros. Como consequência, a disponibilidade de crédito reduz e o custo da dívida sobe.
Com o desestimulo ao crédito, o consumo cai e, consequentemente, as receitas caem. A queda na demanda leva a um processo deflacionário, derrubando o consumo e o preço dos produtos. Com a atividade econômica estagnando, entramos em uma recessão.
Caso a inflação não seja um problema, o governo reduzirá as taxas de juros na tentativa de estimular a economia. Com baixas taxas de juros, o crédito se torna disponível novamente e o consumo volta a subir, assim, o ciclo é renovado.
Repare que o fator determinante deste ciclo é a disponibilidade de crédito, assim o movimento será regido pela disposição dos credores e tomadores de crédito em realizar transações. O maestro disso tudo é o Banco Central que controla o apetite dos credores e devedores através da taxa de juros.
Quando o crédito é estimulado com as baixas taxas de juros, há uma expansão econômica. Quando as taxas são elevadas e o crédito se torna indisponível, há uma recessão. Mas, note que cada ciclo termina com seu cume e seu vale mais altos do que o ciclo anterior.
Isso se deve à tendência das pessoas em contrair mais dívidas do que pagá-las. Por um longo período de tempo as dívidas passam a crescer mais rápido do que a renda, o que nos leva ao tema da Parte III, o ciclo de dívida de longo prazo.