Certa vez, o grande psicólogo ganhador do Nobel, Daniel Kahneman expôs um raciocínio bastante interessante:
“Toda vez que somos surpreendidos por algo, mesmo que admitamos que cometemos um equívoco, dizemos: ‘Nunca cometerei este erro de novo’. Mas, na verdade, o que deveríamos aprender quando cometemos um erro pelo fato de não anteciparmos alguma situação é que o mundo é difícil de se prever. Esta é a lição correta sobre as surpresas: o mundo é surpreendente”.
Esta fala de Kahneman é o tipo de pensamento com que todos concordam, mas que quase ninguém consegue colocar em prática.
Quando refletimos acerca das maiores lições que a crise de 2008 proporcionou, sempre são mencionadas algumas: consumidores não entendiam plenamente os produtos relacionados a hipotecas; bancos usavam de muita alavancagem; precisava-se de mais regulamentação na área de derivativos e melhores regras de contabilidade.
No entanto, estas lições são especificamente relacionadas à crise de 2008.
Além disso, podemos notar que elas sugerem, indiretamente, o que fazer para evitar uma futura crise. Isso faz sentido, já que os investidores querem aprender a lição para não cometerem o mesmo erro novamente.
Contudo, aprender lições específicas só é relevante se a próxima crise for causada pelo mesmo motivo da anterior. Trata-se de algo que raramente é verdade. Raramente a próxima recessão será parecida com a última. Raramente a próxima bolha será causada pelos mesmos fatores que causaram a última.
Nos anos 90, as pessoas estavam preocupadas em prever o próximo crash de 1987, e acabaram não percebendo a chegada da bolha da Internet. Nos anos 2000, estavam tentando prever a próxima bolha da Internet, e acabaram não percebendo a chegada da crise global. Agora estamos tentando prever a próxima crise.
A irracionalidade do mercado faz com que não existam padrões
O problema está em querermos pensar que a economia e o mercado de ações são racionais. Quando pensamos dessa maneira, acabamos por pensar também que o mercado se move em padrões previsíveis. Deste modo, passamos a assumir que podemos melhorar se passarmos a evitar, no futuro, o que não funcionou no passado.
O mercado não é racional, pelo contrário, é muito mais emocional e adaptável. Ele apresenta humores que mudam repentinamente.
Neste sentido, como as mudanças são repentinas, a dor de ontem pode não ser a dor de amanhã. Assim, eventualmente, podemos passar uma eternidade aprendendo novas lições, sem que elas levem a melhores resultados.
No caso de máquinas, que operam em padrões desenvolvidos por seus engenheiros, após um acidente, pode-se detectar o que houve de errado. Após o diagnóstico, é possível implementar uma correção que irá melhorar seu funcionamento.
O mercado não é assim. Ele é movido por incentivos, por ganância, por medo, por euforia, provenientes de cada uma das pessoas que dele participam. Há uma gama enorme de fatores imprevisíveis, mutáveis e impossíveis de serem guiados para uma direção específica.
De fato, não é impossível melhorar nossas decisões, é até bastante necessário fazê-lo. Para isso, devemos ser humildes para aprendermos com as lições. Da crise de 2008, podemos tirar a grande lição de que o mercado pode trazer surpresas imprevisíveis.
Por isso, é uma boa ideia se planejar para tempos de recessão, trabalhando a mentalidade para ser capaz de atravessar períodos de surpresa. Assim, teremos previsto, em nossas estratégias, momentos como estes. Só assim o investidor se sentirá seguro para seguir com o planejado, independentemente do humor do mercado. Sempre mantendo a paciência e o foco no longo prazo.
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