Para que um ativo seja aceito e transacionado no mercado, é preciso que ele apresente uma garantia de valor. Essa garantia, que precisa ser reconhecida por todos, é chamada de lastro.
O lastro é uma ferramenta essencial para a financeirização da economia – garantindo que títulos e ativos “representativos” possam simbolizar algum valor.
Entendendo o conceito de lastro
Lastro é um ativo secundário que serve como uma garantia implícita para um ativo principal. Ou seja, o lastro é utilizado para relacionar um ativo inicialmente sem valor (como um pedaço de papel utilizado como título) com um algo que possua um valor explicito e visível (como um bem físico).
Logo, ao lastrear um título, por exemplo, o seu emissor está oferecendo um segundo ativo, de valor reconhecido por todos, para garantir a avaliação do primeiro. Dessa forma, o lastro “transfere” seu valor ao ativo principal, possibilitando que ele reconhecido e negociado com outras pessoas.
Como surgiu a utilização do lastro na economia?
A ideia de utilizar de garantias físicas para ativos sem valor explicito é antiga, mas se fortaleceu mesmo no final da Idade Média, durante o renascimento das rotas comerciais. Nessa época, as transações entre as pessoas se intensificaram e entraram em um processo de “títularização”. Com isso, as relações econômicas, antes baseadas no escambo, foram sendo substituídas pela transação com títulos financeiros e moedas.
Inicialmente, as moedas eram fisicamente constituídas de um metal precioso (ouro e prata). Ou seja, elas tinham lastro em si mesmas. Porém, com o passar do tempo, outros instrumentos mais práticos foram surgindo – principalmente nas atividades de crédito.
Logo, para garantir que esses ativos valiam alguma coisa, uma instituição confiável (como bancos ou governos) lastraveam esses meios de troca – utilizando, normalmente, as reservas físicas de um metal. Portanto, com o lastro todos poderiam ter certeza que uma nota ou um título equivalia a uma quantidade de ouro, prata ou qualquer outro bem valioso.
Garantindo o valor de uma moeda: o lastro monetário
O conceito de lastrear moedas permanece até hoje, mesmo com o abandono do padrão-ouro internacional – que garantia que todo dólar equivalia a uma quantidade de ouro no banco central americano.
Atualmente, cada país possui liberdade para imprimir mais moeda quando desejar. Mas isso só é possível se a produção geral de riquezas do país também aumentar ao mesmo. Dessa forma, o próprio crescimento econômico irá “lastrear” indiretamente a emissão de mais moeda. Se essa condição não for respeitada, a moeda acaba perdendo seu valor e gerando inflação – o que é altamente prejudicial para a economia.
O mesmo vale para o mercado de crédito: se o governo estimula artificialmente a liberação de financiamentos e empréstimos sem ter condições para garanti-los, forma-se uma bolha que afeta o nível geral de preços e causa distorções no mercado.
Garantindo o valor de um ativo: o lastro financeiro
O lastro também é utilizado largamente nas operações com títulos no mercado financeiro. Na verdade, é o lastro dado como garantia em um título que permite que ele seja aceito e negociado no mercado pelos investidores.
Um empréstimo interbancário via SELIC, por exemplo, é lastrado em títulos públicos. Logo, um banco consegue confiar um no outro para empresar recursos entre si, já que toda a operação é garantida pelo governo. Ao mesmo tempo, uma operação em CDI é lastreada em títulos privados, emitidos pelos próprios bancos.
Já títulos específicos que representam um ativo, como a LCI e LCA, por exemplo, também precisam de lastro para existir. Nesse caso, ambos os títulos são lastreados, respectivamente, em imóveis e produtos do agronegócio.