Investir não é para ser complicado
Se construir uma casa fosse complicado demais, as pessoas ainda estariam morando nas cavernas. Construir pode ser trabalhoso, mas não é para ser difícil. Com a formação de uma carteira de investimentos previdenciária ocorre algo semelhante: como muitas pessoas pensam que isso é complicado, elas preferem ficar longe da Bolsa.
Por Jean Tosetto
Uma das razões que mantém a maioria dos brasileiros longe da Bolsa de Valores está centrada no mito de que investir em renda variável é complicado demais.
Desse mito, podemos tirar um conceito de bom senso: se algo é muito complexo, que não pode ser explicado em poucas palavras, então é de bom tom ir devagar até compreender com segurança do que se trata.
Comprando renda passiva com dinheiro economizado
Ocorre que investir através da Bolsa de Valores não é para ser complicado. Para provar isso, temos que demonstrar, em poucas palavras, como a renda variável poder se benéfica para as pessoas no longo prazo. Vamos tentar?
“Quem investe em renda variável, através da Bolsa de Valores, torna-se sócio de empreendedores que visam lucros. Os lucros, quando divididos entre os sócios, geram renda passiva para estes. Quando a renda passiva for suficiente para custear as despesas do investidor e ainda permitir o reinvestimento parcial, ocorrerá a independência financeira do mesmo.”
Ou seja, quem compra ações de empresas de capital aberto ou cotas de fundos imobiliários, na verdade está comprando renda passiva, que é diferente do conceito de patrimônio acumulado. O que permite a alguém se aposentar é a renda passiva que pagará suas contas, e não o patrimônio acumulado por si só. Afinal de contas, você pode ser dono de um castelo, mas se este não gerar renda sequer para pagar as tarifas de águas e luz, você estará perdido.
A falácia do enriquecimento rápido
Embutido como contraponto neste argumento está outro mito que cerca a Bolsa de Valores, quando tratada como um ambiente virtual onde as pessoas podem acumular patrimônio rapidamente, especulando. Quer dizer, algumas pessoas realmente conseguem enriquecer com velocidade através de apostas certeiras, mas isso não se configura numa regra que possa ser reproduzida em escala.
Então, quem contorna o mito da complexidade, mas cai na falácia do enriquecimento rápido, está apto para comprar fórmulas secretas e mirabolantes para ganhar muito dinheiro em pouco tempo na Bolsa de Valores. Se a fórmula é secreta e mirabolante, deve ser complicada, o que comprova que o mito e a falácia fazem sentido para quem acredita em ambos.
Deste modo, muitos novatos quebram em poucos meses, operando de forma alavancada com opções, day-trade e toda sorte de mecanismos que prendem o investidor desavisado ao seu telefone celular, a espera de uma mensagem gatilho enviada por um pretenso expert, que lhe avise a hora de comprar ou vender um ativo qualquer.
Ao desistirem do mercado financeiro, sem nunca terem compreendido sua real função, estes desiludidos saem por aí proclamando que a Bolsa é um lugar de cobras e lagartos – o que pode ser verdade em alguns casos, mas está longe de configurar o amplo perfil de quem atua neste segmento, formado por profissionais que estão entre os mais competentes e idôneos de uma nação, pois de outra forma o mercado de capitais simplesmente não existiria por muito tempo.
Premissas para trabalhadores precavidos
Para um investidor novato em Bolsa, que deseja diminuir drasticamente o risco de quebrar no mercado de capitais, há duas premissas básicas que ele deve ter em mente:
- Se a fórmula para escolher um ativo é complicada ou não pode ser compartilhada em público, ela deve ser descartada.
- Se há promessa de enriquecimento rápido, o método deve ser abandonado.
Depois que um leigo assimilar isso, ele poderá pensar em dois outros fatores essenciais para evitar riscos: diversificação e margem de segurança.
Por que, para quem começa do zero na renda variável, não existe enriquecimento rápido? Por um motivo muito simples: a maioria absoluta das pessoas depende do excedente da renda de um ofício para fazer aportes regulares na Bolsa de Valores.
Portanto, a grande dificuldade dos investidores de longo prazo não é como lidar com o mercado, mas aumentar o excedente da renda obtida com o trabalho. Este desafio está presente em todas as classes sociais, pois sabemos que quanto maior o salário de alguém, maiores as chances dessa pessoa ter um padrão de vida mais elevado.
É feliz quem tem o tempo ao seu lado
Posto, isso o fator tempo será o grande aliado de qualquer investidor que seguir a simples estratégia de comprar renda passiva por meio de ativos financeiros, quais sejam: ações de empresas pagadoras de dividendos e fundos imobiliários com bom histórico de rendimentos.
Vamos a um caso prático de um sujeito de 45 anos que, por enquanto, tem a expectativa de se aposentar aos 65 pela seguridade social, para então receber cerca de R$ 1.000 por mês do INSS. Ocorre que hoje ele ainda consegue economizar R$ 1.000 e está disposto a investir em fundos imobiliários, pois ainda tem medo de investir em ações.
Vamos supor que ele consiga o plausível retorno mensal de 0,6% ao mês, na forma de renda passiva a ser reinvestida. Ao investir os primeiros R$ 1.000, ao fim de um mês ele terá na conta R$ 1.006. Porém, ele injeta mais R$ 1.000 no segundo mês, na compra de mais cotas de fundos imobiliários, e fica com R$ 2.006 sob custódia. Então, após receber novos rendimentos, o valor sobe para R$ 2.018,04.
Aqui não estamos considerando a inflação e a variação do preço das cotas dos fundos, para salientar o poder dos juros compostos, sabendo que na renda variável as coisas não evoluem de forma linear. Já percebemos que calcular o acúmulo dos rendimentos mês após mês seria trabalhoso demais e temos um período de vinte anos para analisar, quando o investidor em questão completar 65 anos de idade.
Os juros compostos devidamente mastigados
Um caminho para fazer esta estimativa é recorrer à Calculadora do cidadão, via Banco Central do Brasil. Segue o link:
Nesta Calculadora vamos inserir o número de meses equivalente a 20 anos: 240. Vamos adotar a taxa de juros mensal de 0,6% equivalente ao retorno via proventos dos fundos imobiliários. No campo para valor do depósito mensal vamos inserir R$ 1.000. Ao fazer o cálculo, o valor obtido ao final deste período será de R$ 536.964,91.
Este montante, rendendo 0,6% ao mês para o investidor, equivale a uma renda passiva mensal de aproximadamente R$ 3.222 que, somados com o valor pago pelo INSS, equivalem a uma aposentadoria de R$ 4.222 por mês.
Se repetirmos o cálculo dobrando o número de meses, ou seja, admitindo que o investidor tenha 25 anos de idade e irá trabalhar até os 65, o resultado é surpreendente: R$ 2.793.599,71 que, convertidos em renda passiva mensal na taxa de 0,6% ao mês, significam uma aposentadoria de R$ 16.762, sem contar com os R$ 1.000 do INSS – se é que o sistema público ficará de pé até lá.
Então, você pode perguntar se a inflação não vai corroer parte deste valor. A resposta é “sim”, mas num prazo tão longo a tendência da renda variável é entregar valorizações dos ativos acima da inflação.
Renda passiva mais valorização dos ativos
Voltando ao caso do investidor do nosso exemplo, se além do rendimento mensal de 0,6% na forma de proventos, ele conseguir uma valorização das cotas dos fundos imobiliários de modo semelhante, teremos uma taxa de juros mensal de 1,2% sobre o montante investido.
Voltemos para a Calculadora do Banco Central: em 20 anos aplicando R$ 1.000 em FIIs, com taxa de retorno mensal de 1,2%, o investidor acumulará R$ 1.392.468,65 resultando em renda passiva mensal de R$ 8.355 – lembrando que, neste caso, como o reinvestimento deixa de ocorrer, no limitamos ao retorno de 0,6% ao mês.
Se o investidor começar mais cedo, aos 25 anos, nestas condições, a conta chega em R$ 25.776.663,93 com renda passiva mensal de R$ 154.660. Nada mal. Ninguém consegue gastar tanto dinheiro num mês, o que significa que o reinvestimento contínuo da maior parte desta renda passiva fará o bolo crescer indefinidamente.
As ações são as melhores amigas de um investidor
Agora vamos apimentar esta conversa, considerando o investimento em ações, que se não entregam proventos com tanta regularidade como os fundos imobiliários, oferecem um potencial de valorização muito superior.
Vale lembrar nossa proposta de definição sobre o que é investir em renda variável:
“Quem investe em renda variável, através da Bolsa de Valores, torna-se sócio de empreendedores que visam lucros. Os lucros, quando divididos entre os sócios, geram renda passiva para estes. Quando a renda passiva for suficiente para custear as despesas do investidor e ainda permitir o reinvestimento parcial, ocorrerá a independência financeira do mesmo.”
Vamos lá: para tornar-se sócio de uma empresa de capital aberto, você precisa comprar ações. Você prefere pagar caro ou barato por elas? Se respeitarmos o princípio da margem de segurança, temos que buscar por ações de boas empresas que estejam baratas. Um dos principais indicadores para tanto é a relação entre preço da ação e lucro por ação (P/L). Não há regra sobre isso, mas se o P/L ficar abaixo de 20, isso costuma ser um bom indicativo.
ROE e Dividend Yield
Se o empreendimento em questão visa o lucro, como medir este desempenho? Através do ROE (sigla em inglês para “Return On Equity”) ou RPL (Retorno sobre o Patrimônio Líquido), que se for acima de 10% deixa o analista de valores bem animado.
De nada adianta para o investidor focado em renda passiva ser sócio de um empreendimento que não distribui seus lucros. Um bom indicador para tanto é o Dividend Yield, que relaciona os proventos pagos pelo ativo financeiro nos últimos 12 meses, com sua cotação atual. De acordo com Décio Bazin, autor do clássico “Faça Fortuna com Ações Antes Que Seja Tarde” (https://amzn.to/2lIA4hl), um referencial mínimo para o Dividend Yield seria de 6%.
Portanto, se uma companhia de capital aberto atender aos três pré-requisitos listados aqui, em congruência com a nossa definição sobre investimentos em renda variável, então ela será uma séria candidata a figurar em nossa carteira de investimentos.
Indicadores fundamentalistas reunidos
Onde é possível verificar estes indicadores num só lugar? Existem sites na Internet especializados nisso. Alguns são pagos e outros são gratuitos. Uma página de fácil acesso a estas informações é o Status Invest, que reúne informações financeiras sobre ações, fundos imobiliários e títulos do Tesouro Direto. Visite:
Neste site você pode digitar o código de uma ação de empresa ou cota de fundo imobiliário, por exemplo, e ter acesso a vários indicadores fundamentalistas, além de gráficos com a evolução das cotações e históricos de entrega de proventos (ferramenta especialmente útil para analisar o desempenho de fundos imobiliários).
Logicamente, os analistas profissionais não se limitam a estes dados. Eles também verificam o endividamento das empresas, a capacidade de seus gestores, o campo de atuação de cada companhia, os cenários políticos e econômicos, além de uma séria de fatores que o investidor comum não teria condições de estudar sem abrir mão de um tempo considerável.
A Suno trabalha para o investidor
É por isso que existem as casas independentes de research, como a Suno, para tranquilizar os investidores que atuam como pessoa física no mercado financeiro. Se investir não é para ser complicado, não deixa de ser trabalhoso acompanhar tantas empresas e fundos imobiliários, com o objetivo de escolher os ativos mais seguros.
Portanto, se você ainda não é assinante da Suno, não perca tempo: comece a investir hoje mesmo por meio de nossas recomendações:
https://www.suno.com.br/nossas-assinaturas/