Investidores devem tomar partido na Política?

Por Jean Tosetto

As redes sociais mudaram a maneira como o eleitor discute política em tempos de campanhas eleitorais. Se antes as conversas sobre política eram restritas ao convívio familiar e entre amigos, agora cada perfil no Facebook, Instagram ou Twitter é uma plataforma de debate em potencial.

O modo como os candidatos fazem campanhas também mudou. Se o horário eleitoral gratuito na televisão e no rádio sepultou os grandes discursos realizados em comícios que reuniam milhares de pessoas, agora é a vez da Internet se consolidar como o principal canal de comunicação entre candidatos e eleitores, com estes deixando de lado a postura passiva para serem também personagens ativos neste processo.

Porém, esta nova prática gera desgastes, desentendimentos e perca de foco para aqueles que mais se entusiasmam pela política. Se tal envolvimento pode ser muito positivo do ponto de vista democrático, para aqueles que dependem de um ofício regular para sobreviver, o excesso de tempo dedicado para discussões eleitorais pode ser prejudicial. O mesmo se aplica aos investidores.

Logicamente todos nós temos afinidades políticas e nos alinhamos com certas posturas em maior ou menor grau. Porém, se somos investidores atuantes no mercado de capitais, nossa energia e nosso foco deveriam ser direcionados para a análise de possíveis cenários futuros, independente da torcida por este ou aquele candidato. Afinal de contas, a Bolsa de Valores continuará operando normamente, não importa quem vença as eleições presidenciais.

O Brasil não acaba após as eleições

Não só a Bolsa de Valores vai continuar, mas também o Congresso Nacional e todo o Poder Judiciário. Apesar das crises sucessivas, as instituições brasileiras seguem fortes e indicando que nenhum presidente, sozinho, promoverá mudanças radicais para o bem ou para o mal nos rumos da nossa economia.

Posto isso, cabe salientar que as eleições de 2018 estão sendo as mais acirradas dos últimos trinta anos. As posturas radicais nunca estiveram tão afloradas e o mercado financeiro obviamente reage a cada movimento.

Neste segundo turno, de um lado temos Jair Bolsonaro, do PSL – um partido pequeno que elegeu a segunda maior bancada de deputados da próxima legislatura – colocando-se como forte oposição ao petismo liderado por Lula, que mesmo preso na sede da Polícia Federal em Curitiba, Paraná, segue coordenando intelectualmente a campanha de Fernando Haddad, cujo partido segue com a maior representação no Congresso, graças aos votos arrecadados principalmente no Nordeste.

A cada pesquisa eleitoral que indica a liderança crescente de Jair Bolsonaro na corrida presidencial, a Bolsa de São Paulo sobe e o dólar cai, diferentemente do que ocorreu quando Lula oficialmente indicou Fernando Haddad como seu candidato no primeiro turno, quando o dólar passou dos R$ 4,00.

O humor dos candidatos e do mercado

Por que isso acontece? Ao que parece, a candidatura de Jair Bolsonaro é mais simpática ao mercado financeiro, que já anunciou seu potencial ministro da economia, o banqueiro Paulo Guedes, cuja postura liberal está alinhada com o ideal da comunidade de investidores. Por outro lado, o mercado de capitais teme que uma vitória de Fernando Haddad signifique o retorno da política econômica adotada nos mandatos de Dilma Rousseff, que resultou na maior recessão da história republicana brasileira.

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Não vem ao caso nos aprofundarmos aqui nas particularidades das propostas de cada candidato, dado que os movimentos do mercado financeiros já estão majoritariamente postulados. O que interessa ao investidor na condição de pessoa física é como ele pode se comportar em caso de vitória de qualquer candidato, independente de suas expectativas.

Neste caso é preciso ainda que cada investidor reconheça o seu perfil: se é arrojado, moderado ou conservador. É preciso saber também se ele investe na obtenção de renda passiva com foco no longo prazo, ou se é adepto do tradicional “comprar ações na baixa para vender na alta” visando resultados de curto prazo.

Cenários possíveis

Em caso de vitória do candidato Jair Bolsonaro, a tendência da Bolsa de Valores de São Paulo será de alta, pelo menos nos meses que antecedem a sua posse, podendo se estender ao primeiro trimestre de 2019, até que a lua de mel com o Congresso acabe, em função de propostas reformistas empacadas em suas diversas comissões.

Já em caso de vitória de Fernando Haddad, a Bolsa de São Paulo provavelmente ingressará num período de queda, por tempo indeterminado, até que o novo presidente resolva acalmar a população e o mercado em geral, adotando medidas sensatas com apoio dos partidos de centro, que detestam ocupar o campo da oposição.

Como investidores de longo prazo podem reagir?

Para investidores que adotam a estratégia dos dividendos, a vitória de Bolsonaro representará um período de compras moderadas de ações, pois elas tendem a encarecer e remunerar menos os seus portadores. Será uma época de estocar capital em renda fixa, a espera do momento certo de retomar os aportes com mais consistência, uma vez que as oportunidades para comprar boas ações com preços descontados serão reduzidas.

Por outro lado, em caso de vitória de Haddad, as quedas sucessivas da Bolsa de São Paulo podem gerar oportunidades de aportes em ações de grandes empresas que já estavam no radar dos investidores conscientes, cujas cotações elevadas impediam o seu ingresso nas carteiras previdenciárias. Aqueles que tiverem boas reservas em renda fixa se beneficiarão ainda mais neste cenário.

E quem age no curto prazo?

Já para os investidores adeptos do “swing trade”, por exemplo, a vitória de Bolsonaro representará um período para realização de lucros para quem já estiver bem posicionado em ações neste momento. Pode haver alguma janela para compra adicional de ações, mas é impossível determinar o pico das valorizações.

O pior cenário para quem faz “swing trade”, portanto, seria uma vitória de Haddad, posto que para evitar os prejuízos, tais investidores terão que manter os papéis em suas carteiras por meses a fio, até que uma recuperação no mercado possa ser aferida. Ao que tudo indica, porém, esta situação se mostra pouco provável.

Abrigo para tempos instáveis

Dentro dos investimentos em renda variável, aqueles de perfil mais conservador e defensivo enfrentam os tempos de incertezas através de aportes regulares em empresas do tipo “fortaleza”, mas considerando acima de tudo os aportes em FIIs.

Diferentemente das ações das empresas, as cotas dos fundos de investimentos imobiliários são pouco voláteis. Se elas não valorizam excessivamente quando o mercado está aquecido, os preços não caem severamente em períodos de baixas gerais.

Ao pagarem dividendos mensalmente, em volumes previsíveis, os fundos imobiliários se comportam como portos seguros para investidores brasileiros, a ponto de muitos deles torcerem veladamente para que esta modalidade de investimentos não chame a atenção do grande público. Não é o nosso caso. Ao invés disso, nos empenhamos para que os fundos imobiliários façam parte da carteira de todo investidor sensato.

Por isso, lançamos o Guia Suno Fundos Imobiliários, um livro escrito pelos especialistas Marcos Baroni e Danilo Bastos, que já atravessaram vários momentos políticos investindo neste tipo de ativos geradores de renda passiva – que é sempre crescente para quem reinveste os dividendos recebidos.

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Tiago Reis
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