Como prometido, hoje darei continuidade ao assunto de ontem, sobre os Raciocínios de Segunda Ordem, de acordo com Howard Marks. Caso não tenha acompanhado, clique aqui para ler a primeira parte.
Para prosseguir, colocarei os outros dois exemplos que Howard traz quando aborda o assunto em seu livro.
- O Raciocínio de Primeira Ordem diz: “a previsão indica baixo crescimento e inflação crescente. Vamos vender nossas ações”. Enquanto isso, o Pensamento de Segunda Ordem diz: “a previsão não é otimista, mas todos estão vendendo em pânico. Vamos comprar!”.
- O Raciocínio de Primeira Ordem diz: “acredito que os lucros da companhia irão cair; venderei as ações”. Por outro lado, o Raciocínio de Segunda Ordem indica: “acredito que os lucros da companhia irão cair menos do que as pessoas esperam, e a surpresa levantará o preço das ações; comprarei as ações”.
Creio que já ficou clara a diferença. O Raciocínio de Primeira Ordem é rápido, simplista e superficial, em linha com o senso comum. Geralmente, o que se busca com este tipo de pensamento são fórmulas e respostas fáceis, focando na resolução imediata de um problema sem ponderar as consequências.
Já o Raciocínio de Segunda Ordem trata de algo mais profundo e complexo. Um indivíduo que pensa desta maneira leva vários outros aspectos em consideração e tem a consciência de que o sucesso nos investimentos se dá justamente pelo contrário do que é “simples”.
A princípio, o Raciocínio de Primeira Ordem pode parecer tolo. No entanto, o cérebro humano tende a procurar a solução mais fácil, de modo que, muitas vezes, sentimos dificuldade em levar o raciocínio para passos à frente de nossa conclusão inicial.
Carros e Consequências de Segunda Ordem
Numa discussão deste mesmo assunto, Benedict Evans escreveu um artigo que explora o que deveria acontecer no cenário econômico se os carros fossem substituídos por carros autônomos ou se os carros a gasolina fossem substituídos por carros a bateria.
Evans explicita alguns aspectos de primeira ordem óbvios. Ele aponta que metade da produção global de petróleo é destinada à produção de gasolina. Portanto, a implantação de veículos elétricos reduziria o consumo de gasolina.
Em seguida, ele explora como as mudanças nas tecnologias relacionadas à direção e abastecimento podem ter consequências que vão desde estacionamento e acidentes até o consumo de cigarros.
Neste caso, vale destacar que metade das vendas de cigarros nos Estados Unidos acontecem nos postos de gasolina. Além disso, existem indicativos que mostram que a compra de cigarros acontece com base no impulso, de modo que, se o produto não estiver na frente do consumidor, ele se torna menos propenso a comprá-lo.
O impacto nas vendas e no consumo de cigarros é, portanto, um efeito que seria percebido a partir de um Raciocínio de Segunda Ordem.
Como empregar os Raciocínios de Segunda Ordem?
Marks ressalta que o indivíduo que se utiliza deste tipo de raciocínio leva em consideração uma série de questões, como:
- Qual o alcance provável dos resultados futuros?
- Qual resultado eu acredito que ocorrerá?
- Qual a probabilidade de que eu esteja correto?
- O que o consenso pensa?
- Como a minha expectativa difere do consenso?
- Como o preço atual do ativo se comporta com a visão futura do consenso? E com a minha?
- A psicologia do consenso é incorporada ao preço?
- O que acontece com o preço do ativo se o consenso se torna verdadeiro? E se a minha opinião se tornar verdadeira?
Deste modo, podemos elaborar alguns aspectos-chave para exercitar este raciocínio mais elaborado. É necessário questionar tudo que for possível, envolver outras pessoas, pensar no longo prazo, não descartar opções rapidamente e, o mais importante: continuar praticando.
O Raciocínio de Segunda Ordem é um aspecto fundamental que deve ser incorporado por um investidor que deseja ter sucesso em sua carreira. Trata-se de uma habilidade que não só é possível de ser exercitada, como deve ser exercitada.