Fundos abutres: conheça a estratégia atípica desses fundos de investimento
Os fundos de investimento em renda variável são conhecidos por fazer operações arrojadas para conseguir altos retornos. Entretanto, quando a maioria desses fundos já acha algum investimento muito arriscado, os fundos abutres o acham interessante.
Os fundos abutres são muito comuns no mercado financeiro de países desenvolvidos, onde são conhecidos como vulture funds.
O que são os fundos abutres?
Fundos abutres são fundos de investimento especializados em comprar ativos de algo risco visando altos retornos. Atuam na compra de títulos de dívidas de devedores quase inadimplentes ou de ações de empresas perto da falência.
O mais comum é a atuação no mercado de crédito de alto risco, high yield nos Estados Unidos. Muitas vezes eles compram títulos considerados podres, os chamados junk bonds. Eles são classificados assim por terem sido analisados pelas agências de classificação e risco como sendo de alto risco de calote.
Como funcionam os fundos abutres?
A estratégia dos fundos abutres consiste em obter grandes descontos comprando títulos dados como perdidos por credores pelo alto risco de inadimplência. E depois de obtê-los, são negociadas as condições de pagamento com os devedores com altos juros, devido ao grande risco. Em geral, os gestores usam estratégias jurídicas para obter os pagamentos acordados.
São alvos desses fundos desde pequenas a médias empresas a países que enfrentam dificuldades no pagamento de dívidas.
Apesar do alto risco, no geral esses fundos tem gerado altos retornos ao longo dos anos, principalmente para os países desenvolvidos, que após a crise financeira de 2008 viram a rentabilidade da renda fixa tender a zero e buscaram estratégias mais arriscadas para ganhar.
A briga da Argentina com os fundos abutres
Um caso emblemático de um país envolvendo os fundos abutres foi a crise Argentina.
Em 2001, em uma grande crise econômica e política, o país anunciou o calote de sua dívida pública no valor de 100 bilhões de dólares declarando moratória.
A condição de inadimplente impossibilitava a Argentina de contrair novos empréstimos no mercado internacional. Para mudar esse cenário, em 2005 o presidente Néstor Kirchner ofereceu um acordo aos credores. A dívida seria paga com descontos acima de 70% e parcelada em 30 anos.
A grande maioria aceitou a oferta, e recebe o pagamento até hoje. Mas cerca de 7% discordaram das condições.
Diante dessa oportunidade, os fundos abutres compraram a dívida deles e foram a justiça exigir o pagamento total da dívida, liderados pelos fundos NML Capital e Aurelius. A Argentina recorreu, e o caso foi parar na justiça.
O entrave jurídico se arrastou por anos, e enquanto isso, a Argentina continuou inadimplente e fora do mercado de crédito.
Qual foi a solução encontrada para a disputa entre Argentina e os fundos abutres?
Até que em 2016 o presidente Mauricio Macri conseguiu um acordo com os fundos. Foi pago no total aos credores 6,5 bilhões de dólares. Valor referente a 4,65 bilhões de dólares e despesas que os credores tiveram com os fundos. O valor da dívida recebida representa apenas 75% do valor original. Mas muito maior do que o pago pelos fundos abutres.
A saída foi considerada polêmica, já que na visão de muitos argentinos os fundos conseguiram explorar o país e ter altos lucros.
No entanto, com o acordo com os fundos abutres, a Argentina saiu da categoria de junk bond e entrou para investimento especulativo, voltando a fazer parte do mercado de crédito.
Os fundos abutres adotam uma estratégia bastante inconvencional para o mercado, investindo muitas vezes em países com alto risco de crédito. Para saber mais sobre como funciona o investimento no exterior, confira nosso ebook gratuito Investindo no Exterior e descubra como avaliar e investir em ativos de vários países.