Free Float: descubra se esse indicador é relevante ou não
Você já se deparou alguma vez com o conceito de Free Float? Esse é um termo comum no mercado das ações listadas na bolsa de valores.
Free Float (FF) mede a porcentagem de ações da companhia que estão em livre circulação no mercado. De fato, a tradução é direta: Float significa “circulação” enquanto Free quer dizer “livre”.
Ou seja, o FF representa aquelas ações que estão em posse do mercado, e, portanto, são negociadas livremente através da bolsa brasileira, a B³.
Portanto, não são consideradas em circulação as seguintes ações:
- Ações detidas pelo acionista controlador e por pessoas vinculadas a ele
- Ações detidas por administradores da companhia
- Ações em tesouraria
- Ações preferenciais de classe especial (golden shares)
Então, vamos a um exemplo para calcular o Free Float:
- Ações em posse dos controladores: 5.000.000
- Ações detidas pelos administradores: 500.000
- Ações em livre circulação: 2.500.000
Portanto, o total de ações é de 8 milhões e o FF de 2,5/8 = 31,3%
Assim, o Free Float é um indicador importante para investidores, pois ajuda a avaliar a liquidez e a disponibilidade das ações no mercado, o que pode influenciar a volatilidade e a precificação dos ativos.
O valor mínimo de Free Float
Não existe um valor mínimo regulatório estabelecido para o Free Float (FF). No entanto, dependendo do segmento de listagem da companhia, pode haver um mínimo em relação ao capital social.
Na B3, o percentual mínimo de Free Float foi reduzido de 25% para 20%, alinhando-se ao padrão de mercados internacionais como Canadá e Austrália. Isso implica que pelo menos 20% das ações emitidas por uma empresa devem estar disponíveis para negociação no mercado pelos investidores.
A modificação entrou em vigor em 2023, sendo motivada pelo reconhecimento de que o percentual anterior, de 25%, estava fora do padrão e acima da média observada em outros mercados internacionais.
Além da regra geral, os percentuais de negociação podem variar. Por exemplo, durante uma oferta pública inicial (IPO), esses percentuais podem ser influenciados pelo volume da oferta e de negociação (ADTV).
Ainda, outros pontos importantes incluem:
- Uma empresa pode manter um Free Float mínimo de 15% nos 18 primeiros meses, desde que tenha captado um volume de pelo menos R$ 2 bilhões.
- Para ofertas com valores inferiores a R$ 2 bilhões, a empresa deve oferecer aos acionistas compensações de governança e estabelecer critérios para aumentar a liquidez.
- O volume médio diário negociado (ADTV) deve ser igual ou superior a R$ 20 milhões.
- Empresas classificadas como Novo Mercado, Nível 2 e Nível 1 podem aderir a um Free Float de 15%.
Qual é a média?
A média de FF é de 55%, considerando apenas ações que negociam mais de R$ 100.000 por dia. No entanto, é importante ressaltar que, embora se possa esperar uma correlação positiva entre o FF e a liquidez da ação, na prática, isso nem sempre se verifica. Assim, existem ações com baixo Free Float e alta liquidez, assim como ações com alto Free Float e baixa liquidez.
Esta aparente falta de correlação pode ser observada no gráfico abaixo.
Contudo, realizamos esse estudo com base na cotação de 06/04/2018, e é possível que essa relação mude no futuro.
Como calcular o free float?
O cálculo do Free Float indica a quantidade de ações de uma empresa que estão disponíveis para negociação no mercado aberto. Assim, para calcular se divide o número total de ações em circulação pelo total de ações emitidas pela companhia. Em seguida, multiplique o resultado por 100.
Dessa forma, aqui está a fórmula:
Free Float (%) = (Total de Ações em Circulação / Total de Ações Emitidas) x 100
Para ficar mais claro, considere:
- Total de ações em circulação: representa o número de ações que estão disponíveis para negociação no mercado. Ainda, essas ações não estão restritas por acionistas majoritários, administradores, ações em tesouraria ou ações preferenciais especiais.
- Total de ações emitidas: representa o número total de ações que a companhia emitiu, incluindo todas as ações restritas e as disponíveis para negociação.
Por exemplo, suponha que uma empresa tenha 10 milhões de ações emitidas e 5,5 milhões dessas ações sejam restritas. Veja como calcular o Free Float:
- Ações livres: 10 milhões (total de ações) – 5,5 milhões (ações restritas) = 4,5 milhões de ações disponíveis.
- Percentual de Free Float: (4,5 milhões de ações livres / 10 milhões de ações totais) x 100 = 45%
Portanto, o Free Float dessa empresa é de 45%.
Geralmente, não é preciso calcular o FF por conta própria. A maioria dos sites financeiros e a própria plataforma da bolsa de valores fornecem a informação de Free Float para uma empresa específica.
Free Float da ON e PN
Por fim, é importante mencionar a diferença entre empresas com controle familiar e corporações. Enquanto as empresas familiares possuem muitas ações preferenciais (PN) em circulação no mercado, a maioria das ações ordinárias (ON) está em posse dos membros da família que fundou a companhia.
Por outro lado, nas corporações, encontramos um cenário de controle pulverizado, onde não há a figura tão definida do acionista controlador, apesar de que possam existir vários acionistas relevantes. A primeira companhia desse tipo aqui no Brasil foi a Lojas Renner.
Assim, outra maneira de avaliar o Free Float é individualizando o FF para ações ON e PN. Aqueles que preferem possuir apenas ON e não PN podem se incomodar com um baixo float das ações ordinárias, apesar do total elevado de ações em circulação. Além disso, há quem diga que uma companhia com muita PN no mercado, mas, pouca ON estaria fazendo uma “falsa” abertura de capital.
Por fim, para encontrar o FF da ON, PN e o total, basta entrar na página da empresa no site da bolsa brasileira, a B3, escolher a empresa e depois rolar a página até a tabela mostrada acima.
Flutuação Livre
O Free Float é um indicador útil para avaliar a proporção das ações ON, PN e total que estão em circulação no mercado. Além disso, é importante ressaltar que um FF mínimo de 20% é requisito para os segmentos especiais de listagem. Contudo, o FF não está diretamente relacionado à liquidez e nem deve ser utilizado como critério exclusivo para avaliar governança corporativa.