Warren Buffett e a Blue Chip Stamps: aprendendo com os erros
Acredito que um dos métodos mais importantes para o aprendizado consiste em errar. Quando erramos, sofremos algumas consequências e, com o intuito de “não sentir dor” novamente, buscamos não cometer os mesmos equívocos.
Aprender com erros é imprescindível, não apenas no que diz respeito ao campo dos investimentos, mas para todos os âmbitos da vida. Acrescento ainda: melhor do que errar e aprender com os próprios erros é aprender com os erros alheios.
Anteriormente, trouxe à discussão alguns contratempos sofridos por Benjamin Graham em sua carreira de investidor, com a finalidade de mostrar que mesmo os investidores mais icônicos também cometeram erros ao longo do caminho, sem que tais perdas comprometessem seu sucesso.
Desta vez, voltando ao livro de Michael Batnick, Big Mistakes: The Best Investors and Their Worst Investments, falarei a respeito de Charlie Munger, o parceiro de negócios de Warren Buffett.
Batnick introduz o décimo quarto capítulo de seu livro citando o próprio Munger: “Você precisa de paciência, disciplina e habilidade de lidar com as perdas sem enlouquecer”.
Formado em 1948 no curso de Direito, em Harvard, Munger foi introduzido a Buffett em 1959 por um amigo em comum, que considerou que Munger e Buffett formariam uma dupla excepcionalmente única. Como esperado pelo amigo Ed Davis, rapidamente ambos desenvolveram uma relação de proximidade muito forte.
Em 1962, Charlie fundou um hedge fund: Wheeler, Munger & Company. Em seu fundo, Munger alcançou retornos extraordinários de 1962 a 1969: uma média de 37,1% ao ano, antes das taxas. Para efeito de comparação, neste mesmo período, o índice S&P 500 alcançou uma média de 6,6% ao ano, incluindo os dividendos.
No entanto, não existem dias bons sem que existam os dias ruins. Grandes perdas fazem parte do caminho do investidor de longo prazo.
“Se você não está disposto a reagir com tranquilidade a uma queda de 50% ou mais, por duas ou três vezes em um século, você não se encaixa no perfil de um acionista e, portanto, merece o resultado medíocre que eventualmente apresentará diante da comparação com pessoas que possuem um temperamento capaz de atravessar normalmente estas flutuações do mercado”, disse Munger certa vez.
Ao final de 1974, 61% de seu fundo estava altamente concentrado na empresa Blue Chip Stamps, uma empresa de selos para programas de fidelidade. Durante o pico de vendas, a receita da companhia era de US$ 125 milhões, porém, uma desaceleração da economia levou a receita para US$ 9 milhões em 1982.
Em 2006, passou à casa dos US$ 25 mil. Essa concentração de posição levou a sérios danos no portfólio. Mais tarde, a Blue Chip Stamps se recuperou, sendo um ativo extremamente importante, responsável pela compra da See’s Candies, da Buffalo Evening News, bem como da Wesco Financial.
Em 1973, Munger viu seu fundo cair 31,9%. Em 1974, outra queda: 31,5%. Já em 1975, o fundo retornou com ganhos de 73,2%. Mas isso não foi o bastante, durante as quedas, Munger perdeu um grande investidor, fato que o deixou mental e emocionalmente abalado, levando à decisão de liquidar o fundo.
Apesar das quedas brutais registradas em 1973 e 1974, o fundo entregou um rendimento médio de 24,3% ao ano durante seus 14 anos de existência. O S&P 500, por sua vez, retornou 5,2%.
Como Michael afirma em seu livro, qualquer coisa que se compõe por um longo tempo, deve se decompor em algum instante. Como exemplo, no cenário de Buffett e Munger, as ações da Berkshire Hathaway chegaram ao topo histórico e caíram 20% em seis ocasiões diferentes na história.
Munger considera que o maior fator responsável pelo crescimento de sua fortuna foi sua capacidade de reagir com tranquilidade em relação às perdas. Um dos comportamentos mais destrutivos no campo dos investimentos é se desfazer deles após uma queda de preços, numa tomada de decisão baseada em emoções.
Portanto, o foco deve ser dado em não assumir uma posição desconfortável. Para isso, é importante evitar concentrações altas de um tipo de investimento, caso não esteja disposto a lidar com uma eventual grande queda.
Investir, de fato, não é uma tarefa fácil. Em momentos de queda do mercado, as perdas provavelmente serão sofridas em conjunto com os demais. Contudo, existirão momentos nos quais elas serão sofridas individualmente.
Com a abordagem dos equívocos dos grandes investidores, assim como o autor do livro, não desejo mostrar o que se deve evitar. Ao invés disso, busco ressaltar a importância de reconhecer que os erros fazem parte do jogo e eventualmente acontecerão. Porém, sempre que pudermos, devemos empregar esforços para evitá-los.