Aqueles que nos acompanham a mais tempo, provavelmente já estejam familiarizados com o nome do senhor Décio Bazin.
Para quem ainda não conhece, este foi o autor do único livro que o senhor Luiz Barsi diz recomendar para quem pretende investir ou já investe no mercado de ações: o livro “Faça Fortuna com Ações, Antes que Seja Tarde”.
Tempos atrás, nosso amigo e um dos primeiros clientes, Jean Tosetto, escreveu a resenha dessa obra e nos deu a permissão de publicá-la em nosso site como artigo. Você pode conferir esse rico material aqui.
Além disso, uma matéria foi publicada no portal Infomoney em Janeiro deste ano, em que o sócio fundador da Suno Research, Tiago Reis, conversou de forma bem direta com o apresentador do Infomoney TV, Tiago Salomão especificamente sobre este livro.
O livro
A começar pela capa, bastante chamativa por sinal, onde uma peça rei de xadrez se posiciona acima de uma carta rei de baralho, diversas interpretações podem ser feitas mediante à arte ali expressa.
Uma delas seria a de que, no mercado de ações, uma estratégia bem elaborada, simbolizada ali pelo rei enxadrístico, tem real potencial de superar uma estratégia de especulação, ou “aposta”, simbolizada ali pelo rei de ouros do baralho.
É claro que a interpretação é muito pessoal de cada pessoa, mas essa é uma visão que entendemos fazer total sentido.
Adentrando ao livro Faça Fortuna com Ações, podemos constatar claramente que a estratégia adotada pelo autor, apesar de na época viver outra realidade que vivemos atualmente, continua sendo válida para quem pretende investir adotando uma postura baseada no Value Investing.
Décio Bazin deixou claro em várias passagens de seu livro três pontos primordiais em sua visão sobre investimentos.
Para ele, o investidor deveria procurar investir em empresas que se enquadrassem nesses pontos:
- Empresas que estivessem apresentando naquele momento um dividend yield (citado no livro muitas vezes como cash yield) maior ou igual a 6%;
- Empresas que não apresentem endividamento excessivo ou quaisquer outros dados suspeitos;
- E se houverem notícias negativas a respeito dessas empresas que pudessem afetar diretamente em seus resultados, desfazer-se imediatamente dos papéis da mesma;
Fica claro que a estratégia adotada por Décio Bazin é um modelo que foca nos dividendos das empresas, sendo assim, está diretamente relacionada às estratégias de longo prazo adotadas fortemente por investidores de sucesso como Warren Buffett.
Se Bazin ainda estivesse vivo, dificilmente seus resultados não estariam hoje bastante parecidos com os de outros grandes investidores em relação aos investimentos, pois, por ser uma estratégia focada no Dividend Yield das empresas, sugerindo que os investidores operem seus aportes em momentos oportunos de mercado, ela forçosamente tende a operar de maneira mais agressiva nas baixas e mais conservadora nas altas de mercado.
Isso consequentemente remete a operações de compras de papéis de qualidade em períodos de preços mais baixos, no gráfico abaixo é possível ver uma comparação do desempenho de uma carteira teórica criada adotando o método Bazin contra o desempenho do IBOV no mesmo período:
Por isso a paciência tem fundamental importância no comportamento de investidores de com esse perfil. Comentamos sobre isso neste artigo.
Saber esperar o momento certo é uma característica primordial para investidores com essa visão.
Mercado de ciclos
Outro ponto interessante que o livro aborda é a ciclicidade dos mercados, fenômeno este conhecido no inglês como “boom and bust”.
De acordo com esse conceito, o mercado pode ser interpretado como tendo suas temporadas de euforia e depois são seguidos pelos momentos de pânico generalizado.
Décio Bazin orienta o investidor a ficar atento para qual momento do ciclo nos encontramos no momento.
Segundo ele, em momentos de euforia, o ideal é vender as ações e manter o dinheiro em reservas de renda fixa e nos momentos de pânico o investidor deve sair da toca para aproveitar as oportunidades que surgirem.
Nesse ponto da abordagem podemos perceber uma divergência de opiniões entre Décio Bazin e Luiz Barsi, visto que o Barsi tem uma posição diferente em relação à venda de ações.
Ele comentou sobre esse ponto diversas vezes, sendo uma delas inclusive registrada em vídeo numa entrevista concedida por ele a nosso sócio fundador Tiago Reis:
Diferentemente de Bazin, Barsi acredita que o posicionamento do investidor em relação a empresa na qual investe deve ser de parceiro, fazendo o contrário do que sugere a leitura, ou seja, num momento de dificuldade da empresa, Barsi se posiciona de maneira a contribuir com determinada empresa, e não a vender a fim de se desfazer de sua posição.
São diferentes opiniões para uma semelhante estratégia de investimentos, por isso a importância de estudar e aprender com aqueles que possuem mais experiencia, pois, dessa forma, um pouco de cada visão pode ser absorvido e uma conclusão mais completa pode ser elaborada.
Jornalista e Investidor
Como também era jornalista, tendo trabalhado por muitos anos nas redações do jornal “Gazeta Mercantil” e da revista “Balanço Financeiro”, veículos que eram os melhores portais de informações para investidores da época, Décio afirmava que não era bem remunerado em sua profissão, mas chegou a dizer que, em suas palavras que “É perfeitamente possível viver de dividendos. Os dividendos que recebo garantem retirada equivalente ao salário de um presidente de empresa”.
Vale ressaltar que isso ocorreu em meados dos anos 80, época em que o acesso a informação era muito menor que a que temos nos dias de hoje.
Pode-se concluir, com isso, que qualquer pessoa determinada e disciplinada, ao se manter focada em seu objetivo, pode perfeitamente alcançar os resultados desses renomados senhores no mercado de capitais.
Dividend Yield
Em relação a estratégia de Décio Bazin, principalmente quando se remete à questão dos Dividend Yield iguais ou maiores que 6%, existe uma passagem curiosa no livro, que retrata o seguinte:
“Em 1971, o papel mais caro, Banco do Brasil, tinha cash yield de 0,4%, muito abaixo da taxa básica de 6%. É por isso que a ação do BB estava superavaliada. Ninguém dava atenção a certos senhores de cabelos brancos que apontavam para essa discrepância e consideravam irracionais os preços vigorantes.”
Um pouco adiante, Décio Bazin complementa:
“Em 1979, o preço do Banco do Brasil atingia seu ponto mais baixo. O cash-yield era então 7,5% por semestre, acima do básico anual mundial, que é 6%.”
No exemplo acima, fica claro como Bazin executava na prática o que acreditava, já que, por considerar que o preço das ações do Banco do Brasil se encontravam bem caras em 1971 em função do DY de 0,4%, o que realmente é um valor muito baixo inclusive para os dias de hoje, Décio se policiou para conseguir esperar durante oito anos para, em 1979, de fato efetuar a compra dos papéis da empresa, dessa vez a preços mais atraentes que elevaram seu DY para 7,5%.
Mais uma vez o exercício da paciência se fez presente na estratégia de Value Investing.
É claro que cada investidor tem seu ponto de vista particular e sua estratégia para investir, tanto é que até mesmo Décio Bazin e Luiz Barsi divergiam em alguns aspectos, principalmente sobre a questão da venda dos ativos.
Acompanhamento da carteira
Outro ponto a se destacar é que, na opinião o autor, depois de montada a carteira, o investimento deveria ser acompanhado semestralmente.
Para a época, até por questões de dificuldades ao acesso aos balanços e demais informações das empresas, esse intervalo de tempo poderia fazer até sentido, mas para os dias de hoje, certamente uma checagem em intervalos de tempo menores faria mais sentido.
Porém, a ideia que Bazin deixa com essa visão é que o investidor não acompanhe e nem se interesse compulsoriamente pelo preço da ação em si, e sim pelo desempenho operacional da empresa, sobretudo os seus dividendos.
Em outras palavras, o investidor deve se interessar em acompanhar o desempenho do negócio, ou seja, os seus resultados, gestão, eficiência, o business em si, e não do preço do papel naquele momento, visto que, em teoria quanto mais a pessoa acompanhar de perto o valor do preço dos ativos, maior é a tendência de que esses números a influencie ao longo do tempo, fazendo-a tomar decisões muitas vezes precipitadas.
A ideia que Bazin deixa é a de acompanhar com menos frequência os preços dos papéis adquiridos.
Liquidez e Volatilidade
Por consequência de todas essas lições passadas em sua obra, uma outra conclusão a que se pode chegar é que para os investidores de valor, aqueles focados nos dividendos e demais proventos, métricas muitas vezes analisadas e discutidas por investidores focados em ganhos rápidos na bolsa, como Liquidez e Volatilidade dos papéis por exemplo, de fato não tem tanta importância assim, visto que a meta é a associação com boas empresas e o longo prazo.
Conclusão
Dessa forma, não fica difícil perceber por que Luiz Barsi afirmou que essa seria a única literatura que ele indicaria para uma pessoa que investe ou que pretende investir na bolsa.
Apesar de algumas divergências de opiniões pontuais (o que acontece com frequência no mercado) em relação aos pontos de vista dos então companheiros de pregão da época, Décio Bazin e Luiz Barsi, a obra retrata muito bem vários dos conceitos que foram e são praticados por esses dois grandes ícones da história da bolsa de valores brasileira.
Para quem pretende aprender e evoluir com seus investimentos, certamente esse livro é recomendadíssimo.
Com certeza a leitura deste livro é um investimento que vale muito a pena!