As reuniões do Comitê de Políticas Monetárias (Copom) costumam ser eventos muito aguardados por grande parte dos investidores no mercado financeiro.
Isso porque, este órgão é o responsável por definir periodicamente a taxa de juros básica da economia (taxa Selic), bem como divulgar o relatório de inflação. Assim sendo, entender as principais funções do Copom e sua importância no Sistema Financeiro Nacional é fundamental para o investidor focado no longo prazo.
O que é Copom?
O Copom é o órgão do Banco Central (Bacen) responsável por definir a taxa básica de juros da economia, mais conhecida como taxa Selic.
O órgão é formado por membros do colegiado do Bacen, que, além do próprio presidente do Banco Central, inclui oito diretores.
A reunião, realizada a cada 45 dias, segue um processo que procura fundamentar da melhor forma possível as decisões que impactam a política monetária do país.
Por conta disso, os membros do Copom assistem a apresentações sobre estudos técnicos, que expõem a evolução e as perspectivas econômicas em nível nacional e internacional.
Com um amplo conjunto de informações em mãos, os integrantes seguem para reunião reservada para a discussão da decisão mais adequada para a economia do país. Sendo assim, a decisão do Copom é tomada com base na avaliação do cenário macroeconômico e dos principais riscos associados.
Vale destacar que todos os membros do Copom presentes na reunião têm direito a voto, sendo os mesmos divulgados.
Qual a história do COPOM (Comitê de Política Monetária)?
Instituído em 20 de junho de 1996, o Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil é um órgão muito relevante na economia.
Ele foi criado no intuito de estabelecer as diretrizes da política monetária do Brasil e também definir a taxa básica de juros na economia. Taxa esta que serve de parâmetro para todas as operações financeiras do país.
Ainda, com a criação desse órgão, ocorreu uma maior transparência e melhorias nos processos decisórios do Bacen. De fato, a sua criação foi muito inspirada em modelos que na época já eram vigentes no restante do mundo.
Nos Estados Unidos, o equivalente do comitê brasileiro é o Federal Open Market Committee (FOMC), sendo um órgão do banco central americano, o FED. Na Alemanha, este órgão é chamado de Central Bank Council, ligado ao banco central alemão, o The Deutsche Bundesbank.
A tendência no mundo todo é a criação desse tipo de conselho. Em 1998, o Banco Central da Inglaterra instituiu o Monetary Policy Committee, e o Banco Central Europeu também desenvolveu um órgão próprio após a criação da moeda única.
Para que serve o copom?
O Copom serve como um poderoso recurso para alterar a dinâmica econômica do país. Dessa forma, os objetivos do Copom são:
- O estabelecimento das diretrizes estratégicas para a adequada execução da política monetária
- A definição da meta para a taxa básica de juros (Selic) no Brasil
- A divulgação do relatório trimestral de inflação
Sendo assim, podemos concluir que as decisões do Copom têm impacto direto e imediato no dia a dia da população e, sobretudo, dos investidores.
Uma alteração na taxa Selic, por exemplo, pode mudar as taxas de juros cobradas sobre empréstimos e financiamentos.
Pode também alterar o retorno das aplicações financeiras, fazendo o investidor migrar para a renda fixa ou para a renda variável, a depender de qual situação for mais atrativa.
Além disso, ao definir a meta Selic, o Copom contribui para que o Bacen consiga executar com sucesso a sua tarefa de controlar a inflação no país.
Em outras palavras, o Copom define o que deve ser seguido pelo mercado, incluindo a taxa básica de juros da economia e o que deverá ser esperado para os próximos meses.
Qual a relação entre copom e taxa selic?
Como dito anteriormente, o Copom estabelece a cada 45 dias a meta da taxa selic para o país. Para isso, os diretores do órgão consideram toda a conjuntura macroeconômica nacional e internacional.
Sendo assim, os integrantes do conselho discutem as perspectivas para a economia, inflação passada e futura, câmbio, nível de atividade e crédito, entre outros elementos. A partir dessas considerações, eles entram em consenso sobre qual seria o nível ideal da taxa de juros do país.
Desse modo, ao final das reuniões, faz-se uma nota à imprensa divulgando se a taxa Selic foi elevada, reduzida, ou mantida.
Então, com a Selic Meta definida, o Bacen atua diariamente através de operações de mercado aberto (comprando e vendendo títulos públicos) para manter a taxa próxima ao valor estipulado na reunião.
Vale destacar que a taxa deliberada pelo Copom é a Selic Meta, ou seja, é a taxa que ajuda a controlar a inflação no país. Dito de outro modo, é essa taxa que ajuda o governo a controlar a quantidade de dinheiro que circula na nossa economia.
Controle da inflação
O controle da inflação, estabelecido por meio do regime de metas de inflação em 1999, é uma das principais atribuições do Bacen.
Pelo regime de metas, para manter o controle da inflação, ela deve oscilar dentro de uma faixa pré-estabelecida.
Como é possível notar no gráfico acima, a inflação costuma se situar na banda estipulada pelo Bacen. A linha central, mais escura, apresenta a meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Já as linhas pontilhadas correspondem ao teto (máximo) e ao piso (mínimo) definidos para um determinado período.
Como podemos ver, nos períodos entre dezembro de 2014 a novembro de 2016 e março a abril de 2021, a inflação estourou o teto da banda, ligando o sinal de alerta no Banco Central.
Vale destacar que as metas de inflação são sempre determinadas pelo CMN no mês de junho, para a inflação de três anos-calendário à frente.
Por exemplo, em junho de 2018, o CMN definiu a meta para 2021. Esse horizonte mais longo reduz incertezas e melhora a capacidade de planejamento das famílias, empresas e governo.
Quando a inflação ao final de um determinado ano se situar fora do intervalo de tolerância, o presidente do Bacen deve divulgar publicamente as razões do descumprimento.
A comunicação deve ser feira por meio de carta aberta ao Ministro da Fazenda, contendo descrição detalhada das causas do descumprimento, bem como as providências para assegurar o retorno da inflação aos limites estabelecidos.
Como é a reunião do copom?
Talvez um dos eventos mais aguardados pelos investidores de ações, renda fixa, e outros ativos são as reuniões do Comitê de Política Monetária.
O Copom possui oito reuniões por ano, com um intervalo de aproximadamente seis semanas, ou cerca de 45 dias. Ainda, as dinâmicas das reuniões são representadas, costumeiramente, em dois dias, geralmente nas terças e nas quartas-feiras.
Mas caso ocorram alterações bruscas no cenário macroeconômico, o presidente do Bacen pode convocar uma reunião extraordinária. Essas decisões, por sua vez, possuem um impacto enorme no mercado financeiro.
E isso ocorre, pois, os vieses influenciam de maneira direta as curvas de juros que precificam todas as operações do dia a dia financeiro.
Membros da reunião do Copom
Além dos membros do comitê, no primeiro dia também participam destas reuniões os chefes de sete departamentos do Bacen, sendo:
- Departamento de Assuntos Internacionais (Derin)
- Departamento Econômico (Depec)
- Departamento de Estudos e Pesquisas (Depep)
- Departamento de Operações Bancárias e de Sistemas de Pagamentos (Deban)
- Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab)
- Departamento de Relacionamento com Investidores e Estudos Especiais (Gerin)
- Departamento de Reservas Internacionais (Depin)
Neste dia também participam o Secretário-Executivo e o Assessor de Imprensa do Bacen. No segundo dia, apenas os membros do Copom e o chefe do Depep participam da reunião.
- Período de Silêncio
O período de silêncio compreende a faixa de tempo entre a quarta-feira da semana anterior àquela onde ocorre a reunião do Copom até o momento da publicação da ata, na terça-feira da semana posterior ao encontro.
Durante esse período, é vedado aos membros do Copom emitir declaração sobre assuntos do Comitê em discursos, entrevistas à imprensa e encontros com pessoas que possam ter interesse nas decisões.
Reuniões do Copom
No turno da manhã do 1º dia de reunião, ocorre o evento chamado Reunião de Mercado. Nesta reunião Copom são analisadas as conjunturas econômicas, com o desempenho, a produtividade, taxa de juros e inflação do país.
Neste evento, os chefes do Deban, Depin e Demab apresentam um relatório de cerca de 30 minutos sobre as condições dos mercados em que atuam. Isto é, sistema bancário, reservas e operações no mercado aberto, respectivamente.
Já o turno da tarde é dedicado inteiramente à conjuntura da economia doméstica. O chefe do Depec comenta sobre:
- Atividade econômica;
- Inflação;
- Agregados monetários e de crédito;
- Política fiscal;
- Balança de pagamentos.
Já o chefe do Derin passa então uma visão sobre a conjuntura econômica internacional. Por fim, o Gerin fornece a evolução das expectativas de mercado para inflação e outras variáveis importantes.
Já no segundo dia, ocorre a votação a respeito da meta da taxa básica de juros. Geralmente, nesses debates, são apresentadas as alternativas para a taxa de juros de curto prazo. Além é claro, as recomendações para a política monetária nacional.
Há de se destacar um detalhe importante. Junto com a definição da taxa de juros, pode ser emitido, ainda, um viés, que pode ser tanto de baixa quanto de alta.
Esse viés é um direito dado ao Presidente do Banco Central para alterar a meta da taxa Selic a qualquer momento entre as reuniões ordinárias. Vale destacar ainda que a taxa considerada para a política monetária é a Meta da taxa Selic.
Para que, de fato, a taxa de juros da economia se aproxime da meta, é importante uma atuação ativa do Bacen. Atuação esta que se dá através da mesa de operações no mercado aberto, comprando e vendendo títulos públicos.
Informações divulgadas na reunião
Assim que a reunião do segundo dia termina, a decisão do Copom é divulgada exclusivamente através do portal oficial do Bacen. E a partir das 08:30 da terça-feira da semana seguinte à semana da reunião, é também divulgada a ata da reunião através do site do Bacen.
Como resultado dessas implementações, a transparência é muito grande. É possível, hoje em dia, que qualquer pessoa tenha acesso às atas do Copom através do portal na internet do Banco Central.
E isso, de maneira direta, contribui para que as empresas e investidores formem expectativas a respeito do cenário econômico nacional. É um documento bastante interessante para o investidor que quiser entender a macroeconomia de uma forma bem clara e didática.
Além da ata, ao final de cada trimestre do ano, o Copom também publica um documento chamado Relatório de Inflação. Neste relatório é feita uma análise detalhada da economia no Brasil.
Além disso, também é apresentado um gráfico com projeções da inflação (IPCA) através de um leque de possibilidades.
Calendário de reuniões do Copom
O calendário anual das reuniões do Copom é divulgado pelo diretor de política monetária até o fim do mês de junho do ano anterior aos encontros do Comitê. Entretanto, são admitidos ajustes até o último dia do ano de sua divulgação.
Confira abaixo o calendário do Copom para 2023, divulgado pelo Banco Central:
- 21 e 22 de março de 2023
- 2 e 3 de maio de 2023
- 20 e 21 junho de 2023
- 1º e 2 de agosto de 2023
- 19 e 20 de setembro de 2023
- 31 de outubro e 1º de novembro de 2023
- 12 e 13 de dezembro de 2023
Quais são os critérios considerados pelo copom?
No primeiro dia de reunião, os chefes dos departamentos apresentam uma análise detalhada da conjuntura econômica do país. O estudo elaborado pelos técnicos considera os seguintes critérios:
- Inflação;
- Reservas internacionais e Balanço de pagamentos;
- Nível de atividade;
- Evolução dos agregados monetários, finanças públicas;
- Economia internacional;
- Mercado monetário; e
- Mercado de câmbio;
- Operações de mercado aberto e expectativas gerais para variáveis macroeconômicas.
No segundo dia da reunião, após análise pontual de cada um dos critérios, os membros do Comitê apresentam alternativas para a taxa Selic. Ao mesmo tempo, fazem recomendações acerca da política monetária nacional.
Qual a composição do Copom?
O Copom é composto por um presidente, responsável por avaliar informações, apresentações e documentos oferecidos como subsídios para a tomada de decisão. Além disso, fazem parte do conselho os seguintes diretores do Banco Central:
- Diretor de Administração
- Diretor de Assuntos Internacionais e Gestão de Riscos Corporativos
- Diretor de Fiscalização
- Diretor de Organização do Sistema Financeiro e Controle de Operações do Crédito Rural
- Diretor de Política Monetária
- Diretor de Política Econômica
- Diretor de Regulação
- Diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania
Como são oito diretores, então em caso de empate em alguma decisão do comitê, o presidente terá o voto de desempate.
Quais são os impactos das decisões do copom nos investimentos?
O impacto relacionado à definição da taxa básica de juros afeta diretamente a precificação de quase todos os ativos disponíveis para investimento. Esse relatório do Copom, inclusive, serve para os investidores tomarem as decisões mais adequadas para os seus investimentos.
O investidor consegue, por exemplo, decidir se é melhor adquirir um título pré ou pós-fixado, com base nas informações sobre a taxa Selic. Portanto, há uma base mais segura para nortear o processo de tomada de decisões.
Para entender o efeito da variação da taxa Selic nas aplicações financeiras, é preciso discernimento. Isto é, , é preciso separar os investimentos de renda fixa dos ativos de renda variável.
Renda fixa
Na renda fixa pós-fixada ao CDI, por exemplo, um aumento da Selic irá fazer com que a rentabilidade do investidor também aumente. Exemplos de ativos que podem ser pós-fixados:
- CDB;
- LCI;
- LCA;
- Debêntures;
- LF;
- CRI;
- Tesouro Selic;
- Fundos DI.
Já na renda fixa pré-fixada ocorre o cenário oposto. Caso o mercado acredite que a Selic irá aumentar, e de fato isso ocorra, então esses títulos públicos irão desvalorizar. Ou seja, títulos públicos como as Letras do Tesouro Nacional, assim como alguns tipos de Debêntures e CDBs, tendem a desvalorizar nesta situação.
Mesmo papéis sem liquidez desvalorizam. E se o investidor precisar utilizar os serviços da corretora para achar um comprador, poderá ter um deságio grande.
E o oposto das situações mencionadas acima ocorre quando a Selic diminuiu de patamar. Veja, portanto, que as decisões do Comitê de Política Monetária são muito importantes para a economia.
Além disso, também possuem um impacto enorme no mercado financeiro. O motivo disso é que os vieses influenciam de maneira direta as curvas de juros que precificam todas as operações do dia a dia financeiro.
Renda Variável
A definição da meta da Taxa Selic também afeta os investimentos em renda variável. E o movimento segue a mesma direção dos títulos pós-fixados da renda fixa. Quando se fala em modelos de valuation através do Fluxo de Caixa Descontado, a taxa Selic é um dos componentes do modelo.
Portanto, quanto maior for essa taxa de desconto, menores serão as estimativas de valor justo das empresas.
Por esse motivo, o mercado precifica para baixo os preços das ações. Muitos investidores ficam preocupados e vendem suas ações. Já nos fundos imobiliários (FII), por exemplo, ainda que esta mesma lógica acima se aplique, na prática, é um pouco diferente.
O que acontece é que muitos investidores comparam o Yield gerado pelos fundos imobiliários com a taxa de juros da renda fixa. Assim, se a Selic sobe, o preço dos títulos deve recuar para que o Yield aumente e se equipare com o retorno da renda fixa.
Essa comparação é teoricamente errada de ser feita, pois, se está comparando renda fixa com renda variável. Entretanto, o mercado de FII vem funcionando assim desta maneira.
Qual a importância do Copom para a economia brasileira?
Ao definir a taxa Selic, o Copom atua indiretamente sobre vários setores da economia brasileira. Isso porque a Selic afeta os resultados das empresas diretamente, em algumas mais e em outras menos.
Por exemplo, todas as companhias carregam consigo posições de caixa em aplicações de alta liquidez, geralmente pós-fixadas. Dessa forma, quando a Selic sobe, o resultado financeiro dessas empresas melhora.
Para algumas empresas, como de seguros, fidelidade e bancos, o resultado financeiro é bastante relevante frente ao resultado operacional. E neste caso, uma queda da Selic afeta diretamente os lucros da empresa.
Além disso, alterações na taxa Selic influenciam o preço dos produtos e dos serviços e, consequentemente, o poder de compra da população.
No caso dos bancos, a taxa de juros é um grande balizador das operações de crédito, assim como a remuneração paga aos depositantes da instituição. Quando ocorre uma alta na Selic, as operações de crédito são prejudicadas, pois, as pessoas evitam contratar empréstimos a juros altos.
Ao mesmo tempo, juros elevados afetam a quantidade de dinheiro em circulação na economia, já que as pessoas optam por guardar o seu dinheiro, ao invés de gastá-lo.
Dessa forma, o aumento da taxa de juros serve como um instrumento de controle da inflação no país.
Em sentido contrário, uma queda na Selic significa um incentivo maior para a tomada de crédito pela população, promovendo o aquecimento da economia e um provável aumento da inflação.
Diante disso, ao aumentar ou diminuir a taxa Selic, o Copom consegue usar essa ferramenta para controlar a economia e o mercado financeiro do país.