Investidores iniciantes frequentemente acreditam que podem vencer o mercado simplesmente por saberem comprar e vender ações. Geralmente eles estão errados. Este pensamento equivale a um cabo do exército que acabou de aprender a atirar e acredita que pode vencer uma guerra.
Investimentos, assim como as guerras, são complexos e demandam estratégia, planejamento, disciplina e uma série de outras habilidades que são desenvolvidas com experiência e estudo.
Investidores que estão iniciando agora sua jornada no mercado financeiro, muitas vezes, são atraídos por empresas com nomes conhecidos, cujas teses “infalíveis” os fascinam em torno do pensamento de enriquecer.
Conforme o investidor amadurece, ele passa a reconhecer os erros e acertos, moldando sua estratégia de maneira a produzir resultados consistentes no longo prazo. Com muito estudo e dedicação, eles começam a perceber a importância de cada decisão na construção de um portfólio coeso para enfrentar os mais adversos cenários econômicos.
O investidor atinge a maturidade quando aprende a reconhecer e lidar com os erros e acertos de maneira saudável, sem que as perdas e ganhos afetem sua racionalidade na tomada de decisão futura. Deste modo, um tema de extrema relevância no universo dos investimentos são os erros que serão cometidos por todos os investidores.
Acerca desse tema, recentemente li um livro interessante que mostra, em um de seus capítulos, como a aversão a determinado tipo de erro pode evidenciar seu estilo de investimento.
O livro, intitulado Book of Value: The Fine Art of Investing Wisely, de Anurag Sharma, traz a seguinte figura em seu nono capítulo (a figura foi adaptada para o português).
Segundo o autor, quando analisamos uma ação surgem duas possibilidades. Podemos construir a tese de que aquela ação se configura como um bom investimento ou que aquela ação será um investimento ruim.
Além da tese, em se tratando de investimentos, devemos analisar os resultados. Os resultados podem mostrar que os investimentos foram bons ou ruins. Cruzando as teses e os resultados chegamos na figura que apresenta quatro situações.
Os quadrantes 1 e 4 são aqueles onde suas expectativas eram consistentes com o que de fato ocorreu. Ou você realizou um investimento bem-sucedido ou não realizou o investimento e evitou perdas. O investidor deve buscar uma análise coerente para se encontrar, na maior parte das vezes, nestes dois cenários.
As outras duas situações não são satisfatórias. No segundo quadrante, sua análise te levou a pensar que a ação era uma boa ideia, mas ela se mostrou errada. Você cometeu um erro conhecido como falso positivo, ou erro do Tipo 1. Esta situação te leva à perda de capital, o que causa um desconforto inevitável com que o investidor deve aprender a lidar para atingir a maturidade.
Por outro lado, sua análise pode te levar a acreditar que uma ação não é um bom investimento e o tempo pode te mostrar o contrário, o que te coloca no terceiro quadrante. Neste caso, você cometeu um erro do Tipo 2, ou um falso negativo. Aqui, o fato da ação performar bem te traz a sensação de arrependimento por não ter realizado o aporte.
Um problema para os investidores é que os erros são diametralmente opostos. Reduzir a chance de cometer o erro Tipo 1 aumenta as chances de cometer o erro Tipo 2 e vice-versa. Certamente, você consegue reduzir a chance de cometer os dois erros ao melhorar sua capacidade analítica, mas isso só é possível até certo ponto. Inevitavelmente, você terá de decidir qual dos dois erros é mais aceitável para você e isso definirá seu estilo de investimento.
Um investidor que não quer perder oportunidades e, portanto, deseja evitar os erros do Tipo 2, terá uma análise menos criteriosa e investirá em mais ações, o que o fará cometer mais erros do Tipo 1. Este será um investidor mais agressivo.
De maneira oposta, um investidor que preza pela preservação de seu capital e, portanto, deseja evitar os erros do Tipo 1, terá de realizar análises meticulosas com o objetivo de escolher os investimentos que não acarretarão perda de patrimônio, o que o fará perder algumas oportunidades (erro Tipo 2). O investidor que age desta maneira tende a ser mais conservador.
Como disse Warren Buffett, erros serão cometidos ao longo do caminho. Cabe ao investidor buscar o autoconhecimento de modo a compreender qual tipo de erro ele possui mais facilidade em lidar e qual tipo de erro ele deseja evitar, o que lhe permitirá a construção de uma estratégia coerente para atingir seus objetivos de longo prazo.