No Suno Call de ontem, fiz uma homenagem a Benjamin Graham, o Pai do Investimento em Valor. Caso você tenha lido, provavelmente deve se recordar da parte na qual mencionei quais acredito serem os maiores ensinamentos de Graham que perduram até hoje.
Nesta parte, citei alguns ensinamentos de Graham que já foram assunto de outros Suno Calls, ainda que não fossem discutidos com o nome de Graham propriamente dito. Um deles é a diferença entre investimentos e especulação, discutido no Suno Call #303. Outro é o conceito de margem segurança, trazido no Suno Call #304.
O último ensinamento de Graham que mencionei ontem é trazido por ele no oitavo capítulo de seu livro “O Investidor Inteligente”. Nele, o autor discorre sobre “O investidor e as flutuações do mercado”, trazendo reflexões importantes.
As oscilações do mercado são inevitáveis quando se trata de investimentos, tanto a longo prazo, quanto no curto prazo. Entretanto, os efeitos devem ser percebidos mais significativamente no longo prazo. Sendo assim, nós, adeptos ao Investimento em Valor (do inglês, Value Investing) devemos estar preparados para tais situações tanto financeiramente, quanto psicologicamente.
É crucial entender o que Graham quer dizer com estar preparado. Para ele, um investidor despreparado, ao experienciar as oscilações do mercado, poderá cair na tentação de realizar especulações, numa tentativa de antecipar o comportamento do mercado.
Essa atitude, definitivamente, coloca em risco seu capital. Enquanto isso, o investidor inteligente sabe quando está especulando e limita sua quantia de risco, separando-a de seus investimentos.
Além disso, a falta de experiência também leva a busca por caminhos arriscados, como a automatização de investimentos. O problema de tais métodos é que são baseados na observação de padrões no histórico do mercado.
Entretanto, o grande “xis” dessa questão é entender que a popularização destes mecanismos diminuiu sua confiabilidade, uma vez que isso já basta para exercer influência no comportamento do mercado. Não obstante, novas condições também surgem com o tempo.
Basta pensar da seguinte forma: muitas pessoas utilizando estes métodos automatizados, farão movimentações similares no mercado ao mesmo tempo e, quanto maior for a popularidade do mecanismo, maior o aumento de ofertas ou de demandas para a mesma negociação, gerando flutuações que não condizem com os padrões históricos usados no embasamento.
É necessário, portanto, agir com cautela diante das flutuações, buscando tirar proveito delas por meio de abordagens como “compre na baixa e venda na alta”. Para isso, deve-se agir após observar o mercado, não tentando antecipá-lo, pois isso configuraria especulação.
Deste modo, o “investidor astuto” – como Graham chama – compra quando todos estão vendendo, e vende quando todos estão comprando. Para isso, o investidor deve saber reconhecer as fases do mercado, habilidade esta que há de ser alcançada por meio de estudos e experiências em investimentos ao longo dos anos, aprendendo com erros e acertos.
Neste capítulo do livro, Graham também traz sua célebre parábola do Sr. Mercado, um sócio de sua empresa que toma decisões importantes quando está sob fortes emoções, retratando uma personalidade que o investidor inteligente não pode tomar para si, tampouco deve se deixar influenciar pelos Senhores Mercado que existem ao seu redor.
Por fim, o investidor deve apenas observar as oscilações do mercado para ficar atento às oportunidades de compra atreladas às flutuações, isto é, quando os preços caem bastante; bem como às oportunidades de venda, quando os preços aumentam demasiadamente.
Graham ressalta que, geralmente, não é uma boa ideia comprar uma ação imediatamente em seguida a uma subida substancial, nem vende-la imediatamente após uma queda brusca. No restante dos momentos, o comportamento mais sensato é esquecer o mercado acionário e ter o foco voltado para os retornos e resultados.
A grande lição é que precisamos entender que devemos nos preocupar apenas com o que pode ser controlado pelo investidor: custos de corretagem e outras taxas, expectativas, riscos, impostos e, por último, mas não menos importante, o próprio comportamento.
“Investir não significa ganhar dos outros em seu jogo. Significa controlar-se em seu próprio jogo”.
(Benjamin Graham, em “O Investidor Inteligente”)