Muitos investidores se questionam se o investimento em ações protege de fato o investidor da inflação no longo prazo, e garante uma rentabilidade acima da inflação no longo prazo.
Afinal de contas, em um país com uma inflação historicamente elevada como é o Brasil, a inflação é sempre uma questão que preocupa os investidores brasileiros, que procuram pelo menos manter o poder de compra no longo prazo.
É evidente que no mercado de ações não existe garantia de nada, e quem promete ou afirma algo neste sentido, como ganhos garantidos ou rentabilidade assegurada, certamente estará mentindo, porém, na média, e especialmente quando falamos das boas empresas e no longo prazo, existe uma tendência clara dessa proteção inflacionária ocorrer.
Se avaliarmos as performances históricas de grande parte dos mercados de ações globais, notaremos que praticamente todos eles apresentaram, no longo prazo, uma performance bem superior à inflação, sendo que na média, para um período longo (mais de 100 anos), a rentabilidade em geral foi próxima dos 5% acima da inflação ao ano, como pode ser visto no gráfico abaixo, retirado do estudo “Triumph of Optimists”, de Elroy Dimson.
Já no caso do Brasil, a rentabilidade média história do Ibovespa nos últimos 50 anos em dólares, e ajustada pela inflação, foi ainda maior, e supera os 7% ao ano, demonstrando que este padrão de proteção inflacionária também se reproduz aqui.
Evidentemente que no curto prazo podem ocorrer crises e volatilidades pontuais que podem prejudicar a performance desses ativos, tornando suas rentabilidades pouco atrativas momentaneamente.
Como pode ser observado no gráfico acima, no período de 2000 a 2002, ou seja, num intervalo de apenas 2 anos, os retornos foram bastante negativos em quase todos os mercados, e quem analisou a performance no mercado naqueles dois anos específicos, poderia dizer que investir em ações é um péssimo negócio e não protege o investidor da inflação.
Porém, como pode ser observado nas barras azuis, no longo prazo, todos os mercados entregaram retornos superiores à inflação, e no caso, também bem superiores à renda fixa e títulos públicos.
Essa proteção inflacionária que as ações proporcionam aos investidores, se deve principalmente ao fato de que as empresas tendem a crescer junto com a própria economia e a atividade produtiva.
As empresas ao longo do tempo investem para expandir suas operações, aumentam sua escala, o que geralmente se traduz em lucros e resultados maiores ao longo do tempo, se refletindo também em cotações maiores ao longo do tempo, e retornos atrativos.
Além disso, especialmente nos setores menos cíclicos e de maior recorrência, as empresas tendem a reajustar seus produtos e serviços de acordo com a inflação, ou por vezes acima dela, de forma que as próprias receitas das empresas tendem a ser reajustadas pelo menos pela inflação no longo prazo, o que junto do próprio crescimento da demanda pelos seus serviços e produtos, garante um efeito de crescimento real no longo prazo.
É claro que estamos falando de uma forma geral, e é óbvio que há muitas empresas que não serão capazes de entregar retornos superiores à inflação no longo prazo, principalmente empresas mal administradas.
Por isso é fundamental o investidor focar em boas empresas, que possuem números e métricas saudáveis, e estão inseridas em setores perenes, pois essas são as que geralmente entregam os retornos mais consistentes no longo prazo, protegendo o investidor da inflação.
Com uma carteira previdenciária diversificada, e reinvestindo os dividendos, é totalmente provável que o investidor no longo prazo não apenas supere a inflação, como obtenha retornos reais interessantes, inclusive acima dos principais índices acionários.