Arbitragem: entenda como lucrar com as diferenças de preços
Na dinâmica do mercado financeiro, muitas dúvidas surgem durante a jornada dos investidores, principalmente entre os principiantes. Nesse sentido, um dos questionamentos mais comuns é sobre a prática e o funcionamento da arbitragem.
Assim sendo, quanto antes se sanar os principais pontos sobre o que é arbitragem e toda a sua contextualização no mercado, certamente melhores poderão ser os resultados de um investidor no longo prazo.
O que é arbitragem?
A arbitragem pode ser definida como sendo uma operação na qual o investidor visa realizar o lucro sem riscos e, preferencialmente, sem a utilização de recursos próprios. Essa prática consiste numa operação de compra e venda de um ativo visando o lucro sobre a diferença de preços do mesmo ativo em diferentes mercados.
Neste sentido, o tipo de arbitragem mais comum utiliza-se da diferença de preços de um mesmo ativo no mercado à vista e no mercado futuro.
No mercado financeiro, a arbitragem pode envolver operações com:
- Moedas estrangeiras;
- Aluguel de ativos;
- Derivativos;
- Opções.
Tipos de arbitragem
A arbitragem é um fenômeno econômico, mas no mercado financeiro, existem basicamente 3 tipos de negócios que o arbitrador pode se aproveitar de forma lucrar com essa diferença de preços:
- Cambial: É uma operação de troca entre moedas em duas praças financeiras diferentes, com o objetivo de amealhar lucros de acordo com as diferenças de preços entre as duas moedas.
- De bolsa a bolsa: tem como objetivo a compra e venda dos mesmos ativos negociados em bolsas diferentes.
- À vista contra a prazo: consiste numa operação de arbitragem realizada com o objetivo de lucro decorrente da diferença entre o preço à vista de um ativo e o preço deste mesmo ativo a prazo.
Como funciona a arbitragem?
Para ilustrar bem o que é uma arbitragem é interessante apresentar um conceito do que seria uma arbitragem perfeita. Obviamente, este é um exemplo hipotético, pois dificilmente ocasiões de arbitragem perfeitas se apresentam. Seja no mercado financeiro ou na economia como um todo.
Dito isto, uma arbitragem perfeita ocorreria em um momento que se encontrasse um comprador e um vendedor dispostos a pagar preços divergentes por um mesmo ativo. De forma que um intermediador consiga obter lucro com esta situação.
Exemplo de arbitragem no cotidiano
Para ficar claro, faz sentindo apresentar um exemplo de arbitragem:
Suponha que você conhece uma pessoa que deseja muito comprar um determinado modelo de carro. Enquanto isso, você também conhece outra pessoa que está vendendo exatamente o mesmo modelo que a primeira pessoa deseja.
A primeira pessoa deseja muito adquirir o carro — e, portanto está disposta a pagar até R$ 100 mil por ele. Ao mesmo tempo, a segunda pessoa deseja se livrar do veículo o mais rápido possível, e está disposto a vender por tão pouco quanto R$ 60 mil.
Você percebe então uma oportunidade de arbitragem bastante óbvia: é possível comprar o carro do vendedor pelo valor de R$ 60 mil, e então vender o carro à pessoa que deseja comprar pelo valor de R$ 100 mil.
Você embolsará, portanto, um total de R$ 40 mil apenas fazendo uma intermediação entre um comprador em potencial e um vendedor em potencial.
O que acontece geralmente é que compradores e vendedores, na vontade de fazer um bom negócio, acabam se encontrando, encerrando assim a oportunidade de arbitragem.
Exemplo de arbitragem no mercado
Após este exemplo do que seria uma arbitragem perfeita, faz-se necessário um exemplo do que seria esta operação dentro de um mercado já existente.
Assim, suponha-se que um investidor se interesse em negociar café. Dessa forma, o mesmo procura por informações e descobre que o preço da saca do café esteja, naquele momento, à R$ 65,00 a saca. Ao mesmo tempo, ele observa que, no mercado futuro, para daqui a seis meses, o preço desta mesma saca de café está em R$ 70,00.
Ao se aprofundar ainda mais nessas informações, esse mesmo investidor descobriu que, em determinada instituição financeira, ele poderia conseguir um empréstimo de R$ 65,00, hoje, pagando juros por esse crédito de R$ 2,00 no mesmo período de seis meses.
Ao se conectar todas essas operações, diz-se que esse investidor está realizando, assim, uma operação de arbitragem.
Resumindo, então, esse investidor pegará esse crédito de R$ 65,00 no banco, o utilizará no mercado à vista com a compra da saca de café pelo mesmo preço, armazenará essa mercadoria por seis meses e, então, a venderá por R$ 70,00, honrará os seus compromissos no banco de R$ 67,00 e, com isso, lucrará, na totalidade da operação, R$ 3,00 sem ter aplicado nenhuma parcela de seu capital na negociação.
Como a arbitragem deixa de existir?
Existe um fator muito interessante a respeito de arbitragem que faz com que a oportunidade de arbitrar ativos não permaneça por muito tempo. O que ocorre é que a própria existência de arbitragem faz com que ela deixa de existir em um futuro próximo.
Imagine, por exemplo, que você percebe que um aparelho eletrônico, suponha um celular, é vendido em um país vizinho pelo valor de R$ 500.
Você costuma ir muito a este país, e percebe que este mesmo celular é vendido no Brasil pelo valor de R$ 800.
Considere que há um acordo entre os dois países para o livre fluxo de mercadorias. Portanto, você percebe uma ótima oportunidade para ganhar dinheiro realizando a arbitragem.
Ao ir para o exterior, você adquire celulares para vender no Brasil. Obtendo assim ganho de capital com a diferença de preços. Você consegue obter um ganho de até R$ 300 por aparelho vendido. Portanto, é um excelente negócio.
No entanto, o que ocorre é que outras pessoas, com o tempo, também irão se dar conta desta oportunidade.
O que irá ocorrer, então, é um aumento na demanda por celulares no país vizinho. Visto que mais pessoas irão se dar conta desta oportunidade de ganhar dinheiro facilmente.
Em conjunto com o aumento na demanda no país vizinho, há ainda um outro efeito, o do aumento da oferta no Brasil. — pois cada vez mais pessoas estarão adquirindo o produto no país vizinho e o vendendo no Brasil.
Dessa forma, a lei da oferta e da demanda irá agir. No país vizinho, com o aumento da demanda, o preço tende a aumentar. E no Brasil, com o aumento da oferta, o preço tende a diminuir.
Dessa forma, em algum momento, esses preços estarão tão próximos que a possibilidade de arbitragem deixará de existir. Obviamente, este é um exemplo hipotético. Mas serve para ilustrar como ocorre o desaparecimento de uma oportunidade de arbitragem, o que é algo comum.
Exemplo com ativos financeiros
Da mesma forma que ocorre com bens reais os ativos financeiros também apresentam oportunidades de arbitragem em alguns momentos. E, também, essas oportunidades tendem a se dissipar conforme as pessoas as percebam e as utilizem.
Por exemplo, suponha que uma oportunidade de arbitragem apareça com as ações da Petrobras. Essa oportunidade se dá pois as ações estão sendo negociadas no mercado à vista pelo valor de R$ 10, enquanto no mercado futuro a ação está sendo vendida por R$ 12,00.
Um investidor então observa está oportunidade e compra Petrobras no mercado à vista ao mesmo tempo que vende as ações no mercado futuro.
No entanto, conforme este primeiro investidor realiza esta operação, mais investidores se dão conta da oportunidade. Sendo assim, uma grande pressão compradora ocorre em Petrobras no mercado à vista, ao mesmo tempo em que uma grande pressão vendedora ocorre no mercado futuro.
Dessa forma, as ações no mercado à vista tendem a subir. Da mesma forma que no mercado futuro o valor das ações tendem a cair. Isto ocorre devido às forças de oferta e demanda.
Sendo assim, os valores futuro e à vista irão convergindo. E este processo se acelera conforme mais pessoas foram realizando a operação. Isso se dá até chegar o momento em que os valores estarão praticamente iguais. Portanto, não irá existir mais a possibilidade de arbitragem.
Arbitragem entre mercados diferentes
Há de se mencionar, ainda, que existe, também, outro tipo de arbitragem o qual é realizado entre um ativo negociado à vista em dois mercados diferentes, bolsa a bolsa.
Por exemplo, uma ação da empresa ABCD S/A que é negociada em Reais na bolsa brasileira e em Dólar na bolsa americana.
Se por ventura aconteça, neste caso, uma grande variação cambial, o preço dessa ação no mercado brasileiro, em dólar (preço da ação em Reais x cotação em dólar/real), pode não ser igual ao preço em dólar da ação no mercado americano, surgindo, assim, uma oportunidade de arbitragem também nesse cenário.
Isto é passível de ocorrer, por exemplo, com BDRs (Brazilian Depositary Receipts).
BDRs são ações estrangeiras negociadas no Brasil. Estas ações são negociadas em reais no Brasil, enquanto em seus países de origem são negociadas em suas respectivas moedas.
Por exemplo, a Apple, empresa americana, é negociada em dólar nos EUA.
Alguns investidores podem tentar arbitrar ativos como os BDRs. O que ocorre, no entanto, é que atualmente a atualização dos valores se dá quase que de forma instantânea.
Portanto, a oportunidade de arbitragem se torna limitada.
Um grande exemplo disto é o que ocorre após dias em que a bolsa brasileira esteve fechada, enquanto as estrangeiras abertas.
Os ativos brasileiros, embora não sejam negociados aqui em dias de feriado, são negociados normalmente no exterior.
Muitas vezes os ativos podem sofrer variações bruscas fora do país, com quedas ou altas de 5%.
O que comumente ocorre, então, é que no outro dia no Brasil, o ativo já na abertura do mercado reflete o que ocorreu no mercado do exterior. Impede-se assim qualquer oportunidade de arbitragem.
Arbitragem entre ações ON e PN
Uma arbitragem muito comum para investidores buscarem no investimento em ações é a entre as classes de ativos.
As ações podem ser de diferentes classes, entre elas se destacam principalmente as ON e as PN.
As ações ON são as ordinárias, e possuem como principal característica conferir o direito a vota em assembleia para os acionistas detentor. A PN por sua vez não confere o direto a voto, no entanto, dá ao investidor um vantagem no recebimento de dividendos.
Dependendo da empresa a ação ON pode conferir ainda outras vantagens, tal como mais segurança em caso de venda do controle da companhia.
Em algumas ocasiões no mercado as ações ON e PN, embora sejam da mesma empresa, podem negociar em precificações bem diferentes.
Assim, alguns investidores tentam arbirtrar estas ações, vendendo determinada classe e comprando outra.
Assim, atuando comprando e vendendo as mesmas ações de uma mesma empresa, o investidor não se expõe ao risco da empresa em si, mas ao risco de sua arbitragem.
O investidor que age dessa forma julga que o desconto entre as duas classes de ações é irraiconal e irá se desfazer em algum momento.
Embora isto faça sentindo, alguns problemas podem ocorrer de forma a fazer com que este tipo de arbitragem não tenha sucesso, os principais riscos são:
- Risco de liquidez
- Risco de dividendo
- Risco de governança
Risco de liquidez
As ações de uma mesma empresa podem ter precificações diferentes devido a uma determinada classe ser mais líquida do que a outra.
Ou seja, se uma classe apresenta maior volume de negócios, é comum que ela apresente uma precificação mais cara.
Pois um maior liquidez costuma ser encarado como sinal de maior segurança pelo investidor.
Risco do dividendo
Como foi dito, o dividendo entre duas ações da mesma empresa pode diferir de acordo com a classe da ação. Isso ocorre mais ainda quando se considera o dividend yield, pois este leva em conta o valor da ação.
Sendo assim, o desconto entre uma classe e outra pode estar ocorrendo devido a uma diferença no dividendo.
Risco de governança
A diferença de preço entre duas classes de ações de uma mesma empresa também pode ser justificada pela questão da governança.
Ações ON tipicamente oferecem vantagens, portanto, elas podem ser negociadas mais caras de forma a refletir uma maior segurança no aspecto do controle da empresa.
Devido a estes 3 riscos, é muito difícil para o investidor perceber quando há uma oportunidade real de arbitragem no mercado ou quando o desconto é válido pelos motivos citados acima.
Arbitragem: vale a pena fazer?
Hoje em dia, com o aumento da dinâmica tecnológica nos mercados, há menos ineficiência na velocidade das transações e, assim, os preços são corrigidos de forma mais rápida, havendo, dessa forma, menores chances de se realizar esse processo com sucesso.
De toda forma, mesmo não sendo uma atitude recomendável de se fazer devido aos riscos envolvidos na operação, estar ciente sobre o que é arbitragem e como ela funciona tende a fazer com que o investidor tome decisões mais assertivas em seus planejamentos de aplicações financeiras.