Analisando as forças e fraquezas de uma empresa – Parte II

Em continuidade à Parte I, no presente texto, apresentarei as três questões restantes que Michael Shearn apontou no quarto capítulo de seu livro, The Investment Checklist: The Art of In-Depth Research, sobre como analisar as forças e fraquezas de uma empresa.

 

Como a indústria evoluiu ao longo do tempo?

Muitas vezes, somos levados a pensar que o momento que a indústria vive hoje perdurará durante muitos anos, o que pode nos induzir a cometer erros gravíssimos quando investimos.

Para evitar este problema, podemos compreender com maior profundidade a evolução da indústria ao longo das últimas décadas. Assim, é possível perceber elementos que auxiliam a compreensão do cenário atual e futuro da indústria e das companhias que atuam no setor.

Empresas que estão em declínio podem ser negociadas a preços bastante descontados, o que, em um primeiro momento, pode parecer interessante. Entretanto, quando analisamos a evolução histórica da indústria e notamos a decadência, logo fica claro o motivo dos preços baixos.

De maneira inversa, muitas vezes podemos identificar empresas com elevado potencial de crescimento ao compreendermos a expansão significativa que a indústria vive nos últimos anos.

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Qual é o cenário competitivo e quão intensa é a competição?

As forças e fraquezas de uma empresa são intimamente relacionadas ao ambiente competitivo, uma vez que estes elementos são comparativos. Enquanto uma empresa possui determinadas características que lhe garantem forças, outras empresas que não as possuem se situam em posição de fraqueza.

Michael Shearn afirma que, para compreender melhor o cenário competitivo em que uma empresa está inserida, algumas perguntas acerca da dinâmica da competição no mercado devem ser respondidas.

Em primeiro lugar, o investidor deve analisar quão limitada é a competição da empresa, uma vez que a competição nunca agrega valor. Isso se deve ao fato de que quanto maior o número de competidores, menores serão as margens de lucro das empresas, pois os clientes terão mais possibilidades de escolha, o que força as empresas a reduzir suas margens para manter o market share.

Em segundo lugar, devemos estudar a dinâmica da indústria com o intuito de compreender como e quão frequentes são as mudanças na competição. Indústrias altamente mutáveis são mais complexas e arriscadas do que indústrias estáveis.

O próximo passo é compreender como se dá a competição naquela indústria. Empresas podem competir em mercados onde o acesso ao capital é o fator determinante da competição, como é o caso, muitas vezes, da indústria de mineração.

Outra possibilidade é a competição baseada em preço. Este tipo de competição ocorre, geralmente, em indústrias onde não há diferenciação de produto. Neste caso, os clientes estão mais preocupados com o preço do produto do que com a qualidade do mesmo.

Ainda existem diversas outras formas em que as empresas podem competir, e cada caso deve ser estudado separadamente com o objetivo de compreender profundamente as forças e fraquezas das empresas na indústria.

Em um setor que compete por preços, por exemplo, a vantagem de custo sustentável pode ser a vantagem competitiva mais atraente para que uma empresa se torne um bom investimento de longo prazo.

Outro ponto interessante para se analisar é a ameaça de produtos substitutos aos oferecidos pela a empresa. Um produto substituto é aquele que executa a mesma função do produto original, entretanto, o faz por outros meios.

O produto substituto pode ser muito diferente do original, como é o caso do e-mail em relação às cartas, porém, a função desempenhada por ambos é semelhante, a comunicação. Empresas onde os produtos substitutos se configuram como forte ameaça apresentam uma fraqueza relevante que pode reduzir significativamente a competitividade no longo prazo.

Por fim, o investidor deve observar qual é o competidor que estabelece o padrão competitivo da indústria. Geralmente este player apresentará as maiores margens do mercado, o maior retorno sobre o capital investido e o menor ciclo de caixa.

Isso se deve ao fato desta empresa possuir poder de barganha com fornecedores e clientes devido ao seu market share, o que impulsiona as margens e, portanto, os lucros da companhia.

 

Qual tipo de relação a empresa possui com seus fornecedores?

A última questão relevante para se analisar quando pensamos nas forças e fraquezas de uma empresa é a relação que essa estabelece na cadeia de suprimentos.

Uma empresa que possui um bom relacionamento com fornecedores garante um fluxo de mercadorias facilitado, o que permite a geração de fluxos de caixa mais estáveis. O bom relacionamento pode gerar eficiência na cadeia produtiva, o que aumenta o giro dos estoques e, portanto, a geração de caixa operacional.

Além disso, é importante que a empresa não possua seu fornecimento concentrado em pouquíssimos fornecedores, pois isso reduz seu poder de barganha, aumentando os riscos de fornecimento. Neste caso, a empresa não terá posição de força nas negociações e frequentemente será obrigada a fechar acordos que não a favorecem da maneira que gostaria.

 

De forma simplificada, podemos perceber quais são as questões essenciais para analisar as forças e fraquezas de uma empresa dentro de qualquer indústria. Esse tema é bastante amplo e a literatura sobre o assunto é extensa. Para que o investidor aprofunde seu conhecimento no tema, recomendo a leitura completa do livro anteriormente mencionado, The Investment Checklist: The Art of In-Depth Research, de Michael Shearn.

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Tiago Reis
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