Defendemos exaustivamente, em nossos textos, a necessidade de conhecer profundamente os negócios em que o investidor pretende alocar seu capital. Entre as informações fundamentais que o investidor deve buscar estão as forças e fraquezas da empresa perante seu setor de atuação e concorrentes.
Acerca deste tema, Michael Shearn escreveu um livro excelente, com o título The Investment Checklist: The Art of In-Depth Research. No livro, o autor busca criar um checklist que todos os investidores devem fazer antes de realizar um investimento.
No presente texto, que será segmentado em duas partes, tratarei do capítulo 4 do livro, em que o autor ressalta alguns pontos que o investidor deve buscar para identificar as forças e fraquezas de uma empresa.
Segundo Michael Shearn, podemos conhecer o posicionamento da empresa em seu ambiente competitivo a partir de algumas perguntas simples que serão abordadas a seguir.
A empresa possui alguma vantagem competitiva sustentável? Qual é sua fonte?
Vantagens competitivas são fundamentais para o sucesso de longo prazo do empreendimento e, portanto, do investimento. Entretanto, algumas vantagens competitivas podem ser passageiras e, deste modo, é necessário compreender a sustentabilidade da vantagem, bem como a capacidade que a concorrência possui em reproduzir tal vantagem.
Para isso, em primeiro lugar, o investidor deve identificar a vantagem competitiva. Existem diversas fontes de vantagens competitivas possíveis. Michael Shearn destaca seis fontes, são elas: lealdade à marca, patentes, licenças regulatórias, custo de troca elevado, vantagens de custo e network econômico.
Após identificar as vantagens competitivas, o investidor deve se perguntar sobre a sustentabilidade das mesmas, questionando a facilidade de um concorrente em copiar suas forças e o quão rapidamente ele pode fazê-lo.
A empresa possui poder real de precificação?
O poder real de precificação está associado à capacidade da empresa em elevar os preços para além da inflação, sem que isso ocasione perda de clientes. Existem alguns casos em que as empresas podem fazer isso.
Geralmente o poder real de precificação está associado à inelasticidade de demanda do produto. A capacidade de subir os preços sem perder clientes muitas vezes se relaciona à alguma fonte de vantagem competitiva, como patentes ou lealdade à marca.
Empresas que possuem tal capacidade geralmente compartilham características comuns, entre elas, produtos de qualidade elevada, alta taxa de retenção de clientes e clientes com baixa sensibilidade à variação do preço.
A empresa opera em uma indústria com elevada rentabilidade?
Investir nas indústrias certas é fundamental para obter bons resultados. Isso se deve ao fato de que grande parte do seu potencial de retorno é, frequentemente, atribuível à indústria, e não a um modelo de negócio específico.
Para compreender a facilidade de se ganhar dinheiro em determinada indústria, devemos analisar o retorno sobre o capital investido das empresas que atuam no setor. Indústrias que possuem um intervalo pequeno de retorno, com ROIC elevado (bem acima do custo de capital), tendem a ser compostas por empresas com rentabilidade satisfatória.
A indústria farmacêutica americana, por exemplo, entregou retornos sobre o capital investido (ROIC) em um intervalo de 13% a 21% nos últimos anos. Por outro lado, a indústria do petróleo entregou um intervalo muito mais amplo e mais baixo de ROIC, de 3% a 15%.
Esse indicador mostra que é mais difícil ganhar dinheiro na indústria do petróleo do que na indústria farmacêutica. Entretanto, esta é uma análise muito superficial. Para aprofundar a compreensão, é necessário comparar as melhores e piores empresas do setor, no intuito de identificar a dificuldade de se estabelecer e manter rentabilidade elevada naquela indústria.
Em resumo, em termos de forças e fraquezas, a empresa ideal para Michael Shearn seria uma empresa que atua em uma indústria com alta rentabilidade e que possua vantagens competitivas sustentáveis que lhe garantam um poder real de precificação.
Entretanto, esta análise ainda não está completa. Existem mais três questionamentos que um investidor deve fazer ao analisar as forças e fraquezas de uma empresa. Tais questões serão abordadas na Parte II deste texto.