Você já ouviu falar das ações em tesouraria?
Se trata de um item importante no patrimônio líquido da empresa.
O que são ações em tesouraria?
As ações em tesouraria são aquelas ações de emissão da companhia que são mantidas em tesouraria, sendo elas, ações autorizadas que nunca foram emitidas para o público ou ações recompradas do mercado.
Além disso, essas ações que estão em tesouraria não tem direito a voto e nem a dividendos. Ainda, essas ações podem ser emitidas para o público novamente, ou mesmo canceladas definitivamente.
Mas vamos ver na prática como funciona isso tudo..
Ações em tesouraria do Itaú
O Itaú (ITUB3, ITUB4) vem aumentando a quantidade de ações na tesouraria do banco. Mas e como isso afeta as demonstrações financeiras da companhia? Será que isso é algo ruim ou bom para o acionista?
Calma, iremos responder mais adiante. Por agora, vamos ver como a recompra de ações afeta o balanço patrimonial e o demonstrativo de fluxo de caixa. Além disso, vale destacar que a recompra de ações não afeta o demonstrativo de resultado.
Ou seja, sempre que a companhia faz uma recompra de ações, o caixa da empresa diminui e o patrimônio líquido também, na mesma quantidade. Veja abaixo como a recompra aparece como uma conta redutora no patrimônio da empresa.
Mas como há também uma saída de caixa, então o demonstrativo de fluxo de caixa também é afetado. De fato, como podemos ver abaixo há uma saída de caixa na categoria de “atividades com financiamentos”.
Porque as companhias recompram ações
Então, as companhias podem manter ações em tesouraria por vários motivos. A empresa pode querer emitir novas ações no futuro para levantar caixa, ou então se proteger de uma aquisição hostil.
Mas eu diria que o principal motivo é gerar valor para os seus acionistas, o que é de agrado dos investidores do Value Investing. Funciona assim:
Quando a empresa recompra ações, é como se estivesse distribuindo participação aos acionistas que não venderam suas ações. Alternativamente, a recompra pode ser encarada como um dividendo disfarçado. Vamos ver um exemplo para deixar mais claro essas ideias.
- Acionista Pedro: 10 ações
- Total de ações: 100 ações
- Participação de Pedro na empresa : 10/100 = 10%
Pedro tem 10% de uma determinada companhia. Agora veja o que acontece se essa empresa resolver recomprar 10% de suas ações emitidas e Pedro não vender nenhuma de suas ações.
- Acionista Pedro: 10 ações
- Total de ações: 100 ações – 10% = 90 ações
- Participação de Pedro na empresa : 10/90 = 11,11%
Pedro agora tem 11,11% de participação, ou seja, recebeu 1,11% a mais. Com isso, no futuro também terá direito a 1,11% a mais de votos, dividendos e JCP. Além disso, a própria geração futura de caixa será representada por uma menor quantidade de ações, o que deve valorizar o papel.
Mas esse benefício também pode ser considerado um dividendo disfarçado. Caso queira, Pedro pode vender 1,11% de sua participação, ou aproximadamente 1 ação, e embolsar o valor da venda. A participação de Pedro voltaria a ser, portanto, de 9/90=10%, como era antes da recompra. Só que agora, ainda sobrou um dinheiro na mão de Pedro.
Nem tudo são flores
Por fim, vale mencionar que esses benefícios só são realmente realizados caso a empresa recompre as ações quando julga estarem abaixo do valor intrínseco, e além disso, cancele essas ações recompradas após a recompra.
O motivo disso é que se o preço de recompra for muito caro, era melhor que a companhia usasse o dinheiro para outra finalidade, como distribuir proventos, pagar dívidas ou reinvestir no próprio negócio.
Existe ainda uma outra forma da empresa beneficiar os acionistas que é reemitindo as ações em tesouraria por um preço maior do que o preço de recompra. Contudo, vale mencionar que esse ganho não é reconhecido na DRE e a legislação impede que a companhia mantenha em tesouraria mais do que 10% das ações em circulação.
Ainda, existem críticas quanto à recompra de ações, pois diminui a liquidez da ação e pode inclusive pressionar os preços para cima no curto prazo.
E para concluir, as empresas podem aprovar um programa de recompra mas nunca efetivarem, pois não há a obrigação como no caso de pagamento de dividendos/jcp. Além disso, a legislação impede as companhias de manterem na sua tesouraria mais do que 10% do total de ações em circulação.
Conclusão sobre a recompra de ações
As ações em tesouraria são aquelas ações recompradas pela companhia ou nunca emitidas. A recompra de ações pode ser considerada uma distribuição de participação, ou um dividendo disfarçado. Contudo, isso só é benéfico para o acionista de longo prazo desde que a empresa recompre as ações por um preço abaixo do valor intrínseco e cancele as ações. Caso não cancele, então a companhia pode também gerar valor ao reemitir as ações ao mercado com lucro.