Charlie Munger e a Arte de Escolher Ações

Charlie Munger, sócio de Warren Buffett na Berkshire Hathaway, discorreu com maestria sobre como os investimentos em ações podem ser uma mescla de ciência e arte, envolvendo matemática básica, psicologia e contabilidade.

Segundo o bilionário, investimentos envolvem grandes complexidades que requerem habilidades muito simples. Alguns conhecimentos são necessários, mas qualquer indivíduo pode aprendê-los.

Você não precisa ser um gênio para saber investir. Basta que tenha algumas características e conhecimentos que podem ser desenvolvidos com disciplina, planejamento e persistência.

Para Munger, conhecer matemática básica é essencial. Quando digo básica, estou me referindo à matemática que aprendemos no ensino médio. Elementos simples como juros compostos, probabilidade e combinações devem ser conhecidas para que o investidor consiga construir modelos mentais que permitirão ter visão crítica para solucionar problemas, que inevitavelmente surgirão na tomada de decisões de investimentos.

A diversidade dos modelos é fundamental para lidar com os problemas, pois, como afirma Munger, “para uma pessoa com um martelo, todos os problemas se parecem com pregos”. Com isso, o sócio de Buffett defende que pessoas que desenvolvem apenas algumas ferramentas, tentam distorcer a realidade para que a situação se enquadre em seu modelo. Isso pode parecer interessante na teoria, mas na prática os resultados serão desastrosos.

Além da matemática, Munger defende que a compreensão de alguns conceitos de psicologia é necessária, pois, muitas vezes, em se tratando de investimentos, temos de agir de maneira contrária à natureza humana, o que é extremamente difícil se você não compreende o modo como o ser humano pensa e age.

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Por fim, o bilionário argumenta sobre a importância de conhecer a contabilidade e suas limitações. Novamente, o investidor não acredita ser necessário ter os conhecimentos profundos que um contador possui no tema, mas conhecer a linguagem financeira dos negócios e as limitações que essa forma de comunicação possui são de extrema importância para que suas decisões de investimentos sejam concebidas de maneira racional e consciente.

Após apresentar os conhecimentos básicos que Munger acredita serem necessários para que o indivíduo se torne um bom investidor, o vice-presidente da Berkshire Hathaway aponta em seu texto, Art of Stock Picking, os elementos que o investidor deve observar quando escolhe as ações que pretende adquirir.

Munger acredita que o investidor deve olhar para o sucesso e fracasso das empresas e sempre questionar o porquê.  Muitas vezes as respostas envolverão dois temas, as eficiências e ineficiências da gestão e as vantagens e desvantagens de escala.

Para explicar as vantagens de escala de maneira didática, Munger traz um exemplo matemático muito simples, porém excelente. Considere que você é um fabricante de reservatórios esféricos de água que utilizam aço inoxidável em sua produção. Quanto maior for o reservatório, maior a quantidade de aço utilizado na fabricação, entretanto, o aumento do volume não é equivalente ao aumento do uso do material.

Enquanto o material gasto para a fabricação aumenta em razões quadráticas (superfície), o volume interno dos tanques aumenta em razões cúbicas (volume). Assim, quando você produz tanques maiores, o material utilizado na superfície aumenta menos do que proporcionalmente ao volume dos tanques, o que traz ganhos de escala.

Em uma empresa, as vantagens de escala podem vir em diversas formas e, muitas vezes, os benefícios são significativos e podem trazer grandes vantagens competitivas para a companhia que as detém.

Entretanto, Munger afirma que nem sempre a escala traz vantagens. Junto com a escala vem a burocracia, o que pode se tornar uma grande desvantagem para a organização. Uma empresa muito grande e burocrática perde eficiência e flexibilidade na tomada de decisão, o que reduz a competitividade, piorando seus resultados frente à concorrência. Deste modo, como afirma Charlie Munger, “maior nem sempre é melhor”.

Isso nos leva ao segundo fator responsável pelo sucesso e fracasso das companhias, a gestão. Para que uma empresa administre com sapiência suas vantagens e desvantagens competitivas, a gestão deve estar engajada e motivada a executar a estratégia proposta da maneira mais eficiente possível, considerando as consequências de cada decisão no resultado de longo prazo da empresa.

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Munger defende que o investidor deve sempre estar atento à gestão da empresa. Ela é responsável pelas decisões estratégicas e de alocação de capital que refletirão nos resultados futuros da companhia. Estude o histórico dos gestores e o comprometimento destes com os interesses dos acionistas.

Muitas vezes, uma empresa que apresenta resultados excelentes, mas possui uma gestão medíocre, pode ser um investimento pior do que uma empresa que apresenta resultados medíocres, mas uma gestão excelente. O futuro depende da gestão e os resultados podem mudar.

Tim Koller e Richard Dobbs, escritores do livro Value: The Four Cornerstones of Corporate Finance, concordam com Munger e classificam a gestão como um dos pilares fundamentais para a geração de valor de qualquer empresa.

Os autores defendem que, em uma mesma operação, a empresa consegue gerar mais valor através de gestores melhores e mais engajados com o empreendimento. Muitas vezes, a gestão pode ser a maior responsável pelo sucesso de uma companhia.

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Tiago Reis
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4 comentários

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  • Marcos Antonio de Oliveira 11 de julho de 2019
    Muito bom, artigos como este enriquece muito nossos conhecimentos, pois temos acesso como pensam as pessoas que fizeram e fazem diferenças no mundo das finanças.Responder
  • Marcela 14 de agosto de 2019
    ExcelenteResponder
  • Phelipe 14 de agosto de 2019
    Excelente conteúdo! Obrigado por compartilharResponder
  • Deivid 12 de novembro de 2019
    Muito bom o texto....Responder