Depreciação: como calcular e analisar esse conceito contábil
Para quem investe no mercado de capitais, compreender o conceito de depreciação é fundamental. Inclusive para que se entenda melhor a definição do Ebitda, que é considerado por muitos analistas como uma proxy da geração de caixa de uma companhia.
Mesmo assim, muitos investidores não conhecem, ainda, o racional que existem em relação à depreciação. Dessa forma, o objetivo desse artigo é justamente minimizar essa incompreensão bastante comum observada no mercado.
O que é depreciação?
A depreciação pode ser entendida como um recurso contábil que tem por objetivo atribuir um custo financeiro de um ativo tangível ao longo da sua vida útil. Neste sentido, as empresas consideram esse tipo de conceito contábil dos seus ativos de longo prazo para fins fiscais e contábeis.
Vale ressaltar nesse ponto que a depreciação é um cálculo contábil e, portanto, é importante compreender o significado de depreciação na contabilidade. Ou seja, para aplicar a depreciação sobre um bem, os responsáveis por uma empresa ou detentores de um bem deve observar os conceitos pré-estabelecidos pela legislação e verificar como executá-los sobre os bens da companhia.
Além disso, há tipos diferentes de depreciação na contabilidade, sendo a principal a depreciação linear. Todavia, é importante compreender como funciona cada um dos tipos de depreciação, visto que a depender dos bens ou da estrutura organizacional da companhia pode ser mais vantajoso utilizar um outro tipo.
Para fins fiscais, as empresas podem deduzir o custo dos ativos tangíveis que compram como despesas comerciais. No entanto, as empresas devem depreciar esses ativos de acordo com as normas contábeis que dizem respeito a como e quando a dedução pode ser efetivamente estabelecida.
Normalmente este é recurso contábil geralmente avaliado como um conceito difícil para quem se propõe a estudar sobre contabilidade, pois não representa, de fato, o fluxo de caixa real. Essa confusão ocorre justamente porque não há movimentação de caixa relacionada à depreciação, o que difere da amortização e elucida o fato desse recurso ser contábil e não financeiro.
A depreciação é uma convenção contábil que permite que uma empresa anule o valor de um ativo ao longo do tempo. Contudo, para fins de contabilidade, a despesa relacionada a esse conceito contábil não representa uma transação de caixa, apesar de ser utilizado como se fosse um custo de depreciação.
Como funciona a depreciação?
Como apontado, a depreciação é utilizada como um mecanismo contábil que atribui um custo para os bens ao longo do tempo. Na prática, a depreciação funciona como uma forma de atualizar o valor de um bem ao longo do tempo, calculando de forma padronizada a redução do valor desse bem gerada pelo desgaste da utilização.
Dessa forma, conforme um bem é utilizado ao longo do tempo ele vai perdendo seu valor, ou seja, o valor desse bem fica depreciado. Na prática, os bens se desgastam naturalmente ao longo do tempo e vão ficando obsoletos, basicamente há depreciação de capital.
Dessa forma, é calculado um percentual de desgaste desse bem que é aplicado sobre o valor para que se chegue ao valor atualizado do bem. Nesse sentido, o valor contábil de um bem é reduzido ao longo do tempo, mas vale ressaltar que esse valor nunca chegará a zero, visto que como o desconto é percentual, sempre haverá um valor residual para o ativo.
A depreciação só é aplicado em bens que uma companhia irá manter sob sua posse por mais de um ano, visto que caso a empresa venda o bem no mesmo ano contábil não será necessário calcular a depreciação do mesmo. Ou seja, o recurso da depreciação só é utilizado nos bens do ativo permanente da companhia.
Portanto, na maioria dos casos, a depreciação contábil é aplicada sobre os bens essenciais para o funcionamento da companhia. Entre os principais exemplos desses bens estão imóveis, automóveis e maquinário da companhia. Em geral, esses são os principais bens utilizados para o funcionamento cotidiano de uma companhia e com durabilidade prolongada.
Esse é um dos motivos, inclusive, que grandes empresas costumam registrar cada um de seus bens em uma lista de ativos imobilizados. Até mesmo móveis como mesas e cadeiras são registrados, visto que facilitam o controle do ativo permanente da companhia, além de facilitar a aplicação da depreciação sobre todos os bens da companhia.
Para que serve a taxa de depreciação?
A taxa de depreciação serve justamente para que o desgaste dos bens ao longo do tempo seja contabilizado. Sendo que o desgaste contabilizado independe da forma do desgaste, portanto, independente se o desgaste for gerado pela ação do clima ou pela utilização do bem, a taxa de depreciação será a mesma, conforme previsto na legislação vigente.
A função principal da taxa de depreciação para uma empresa é reduzir o lucro contábil, esse é um dos motivos para as companhias aplicarem esse recurso da forma mais eficiente possível. A partir da redução da contabilização da redução do lucro contábil, a empresa tende a reduzir os valores a serem pagos de IRPJ (Imposto de Renda Pessoa Jurídica) e CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido).
A taxa de depreciação é uniforme de acordo com o tipo de bem. Dessa forma, a taxa de depreciação de um imóvel é a mesma, independentemente do valor comercial desse imóvel ou de onde ele está localizado. Nesse sentido, o percentual que será descontado anualmente do seu valor contábil será o mesmo para todos os imóveis.
Além disso, mesmo que um bem seja pouco utilizado ou muito utilizado, a taxa de depreciação aplicada sobre ele será a mesma. Dessa forma, no caso dos veículos, por exemplo, mesmo que uma empresa utilize o veículo poucas vezes e outra empresa utilize um veículo igual todos os dias e esse esteja mais deteriorado, a taxa de depreciação a ser aplicada em ambos não será diferente.
Esses ativos sofrem depreciação todos os anos, em geral, essa contabilização é oficializada no momento de realizar a Declaração Anual de Ajuste do Imposto de Renda. A depreciação só deixa de ser aplicada quando a empresa realiza a venda do referido bem, ou seja, quando o bem não faz mais parte do ativo imobilizado da companhia.
Quais são os bens depreciáveis e não depreciáveis?
Um ponto importante de ser compreendido é que nem todos os bens do ativo imobilizado de uma companhia são depreciáveis. Dessa forma, existem bens depreciáveis e bens não depreciáveis entre os bens de uma companhia.
Até mesmo bens do mesmo tipo, como imóveis, pode ser depreciáveis ou não depreciáveis. Essa diferenciação ocorre porque o fato de um bem sofrer depreciação está diretamente ligada ao seu uso para as atividades da companhia.
Bens depreciáveis
Entre os principais bens depreciáveis de uma companhia estão:
- Imóveis utilizados para as atividades da companhia ou alugados e, portanto, geradores de renda;
- Bens móveis utilizados para o desempenho das atividades da empresa;
- Máquinas e equipamentos;
- Veículos utilizados tanto para execução das atividades da companhia, como para transporte de funcionários.
Bens não depreciáveis
Entre os principais bens não depreciáveis de uma companhia estão:
- Terrenos e imóveis não alugados e nem utilizados para as atividades da companhia;
- Itens que podem aumentar de valor ao longo do tempo, como obras de arte;
- Bens que tenham vida útil menor que um ano;
É possível verificar que a diferenciação entre os bens depreciáveis e não depreciáveis seguem uma lógica. Caso um bem não seja utilizado para as atividades da companhia, ele em geral não será considerado um bem depreciável, ao passo que os bens pelos quais a companhia execute suas atividades ou seja gerador de renda entrará na lista de bens depreciáveis.
Por outro lado, também existem pontos mais específicos da lista de bens não depreciáveis. Entre esses pontos estão os bens que podem aumentar de valor ao longo do tempo. Em geral, esses tipos de bens são itens com valor histórico, como obras de arte ou ainda relíquias ou antiguidades.
Além disso, há também aqueles bens que possuem vida útil muita curta e nem chegam a ultrapassar um ano calendário. Em geral, esses itens são bens menores de uso de curta duração e possuem baixo impacto no montante geral do ativo imobilizado da companhia.
Como calcular a depreciação?
A título de exemplificação, consideremos que se uma empresa compra uma peça de equipamento por R$ 50.000,00. A mesma pode considerar, em sua contabilidade, o custo total do ativo no primeiro ano, ou pode escrever o valor do ativo sendo diminuído durante a vida útil do mesmo, que nesse caso hipotético, é considerado de 10 anos.
É por isso que, normalmente, os empresários simpatizam com esse recurso contábil. A maioria dos proprietários de empresas prefere gastar apenas uma parcela do custo, o que aumenta artificialmente o lucro líquido no período de aquisição do mesmo.
Além disso, o equipamento em questão pode ser vendido, vamos supor, por R$ 10.000,00, que foi o seu valor após a desvalorização natural que ocorre naturalmente em um processo de revenda. Entretanto, não há como negar que a empresa em questão possui o valor real referente a montante financeiro a considerar como um ativo em seu balanço patrimonial.
Dito isso, normalmente o contador, utilizando-se desse princípio contábil, calcula a despesa de depreciação como a diferença entre o custo do bem e o seu valor de revenda, dividido pela vida útil do ativo.
Exemplo de cálculo de depreciação
O cálculo neste exemplo de um bem no valor de R$ 50.000,00 seria, então, desenvolvido da seguinte maneira:
- Depreciação = (R$ 50,000 – R$ 10,000) / 10
De acordo com a equação acima, portanto, a depreciação, neste caso, seria então de R$ 4.000,00. Isso significa que o contador da empresa não precisa descontar do fluxo de caixa da empresa os R$ 50,000 inteiros, mesmo que esse tenha disso o valor pago em dinheiro. Em vez disso, a empresa precisa considerar o desconto de R$ 4.000,00 em cima do lucro líquido.
Ou seja, a empresa terá que considerar o desconto, em suas Demonstrações do Resultado do Exercício, de mais R$ 4.000 no próximo ano. Além disso, terá que considerar outros R$ 4.000 no ano seguinte, e assim por diante, até que o valor do equipamento seja completamente cancelado no décimo ano após a sua aquisição.
Quais são os tipos de depreciação?
Os métodos para realizar o cálculo da depreciação podem ser diferentes, isso ocorre porque a depender da estrutura de uma companhia pode ser interessante utilizar um ou outro método. Dessa forma, é importante conhecer todos os tipos de depreciação e avaliar qual se encaixa melhor para cada empresa.
Depreciação Linear
A depreciação linear é o mais comum entre os tipos de depreciação, visto que ela considera que o bem se desvaloriza aos poucos ao longo do tempo. Por esse motivo, esse é o método mais utilizado pelas companhias.
Além de ser a que representa de forma mais próxima a real desvalorização de um bem, ela também é a mais simples de ser calculada. Visto que basta aplicar o percentual de depreciação sobre o valor do bem ao longo dos anos.
Depreciação Acelerada
A depreciação acelerada é utilizada por um tipo específico de companhia, que são aquelas que operam seu maquinário por dois ou três turno diários. Ou seja, são companhias que utilizam suas máquinas por 16 ou até mesmo 24 horas diárias.
Nesses casos, a taxa de depreciação pode ser aumentada de acordo com a utilização dos bens. Para um bem cuja a taxa de depreciação seja de 10% para utilização de um turno, nesses casos excepcionais será de 15% no caso de turno de 16 horas e de 20% no caso de um turno de 24 horas.
Depreciação Acumulada
A depreciação acumulada é na prática a soma da depreciação de todos os bens de uma companhia. Apesar de parecer um conceito simples, ele também é importante porque esse é o valor que será apresentado no balanço patrimonial de uma companhia.
Dessa forma, apesar de cada bem possuir a sua taxa de depreciação específica, os valores da depreciação de todos os bens serão somados pelo contador. A partir desse número ele irá abater do resultado final da companhia.
Depreciação Gerencial
A depreciação gerencial é um recurso contábil utilizado para normalmente para controle interno. Esse fato ocorre porque esse tipo de depreciação é utilizado quando um bem ultrapassou a sua vida útil ou não é mais utilizado pela indústria.
Dessa forma, a depreciação gerencial serve para a empresa mensurar qual deve ser o valor para esse bem ser vendido. Nesse caso, apesar de não ter mais vida útil, a companhia consegue calcular um valor compatível com seu nível de desgaste.
Quais as diferenças entre a depreciação e amortização?
Como apontado a depreciação é o abatimento sobre o valor de um bem tangível, ou seja bens físicos, como bens imóveis, veículos, entre outros. Já a amortização é o abatimento de bens intangíveis, como é o caso de marcas e patentes, em suma, ela incide sobre algum direito legal geralmente detido por contrato.
A depreciação e amortização são conceitos bem diferentes mas pelo fato de ambos serem uma forma de abater um valor sobre um bem, pode haver confusão entre esses dois recursos. Ambos são utilizados nas demonstrações contábeis de uma companhia.
Vale ressaltar que tanto os bens nos quais incidem a depreciação como os bens em que incidem a amortização são registrados no ativo de uma companhia. Dessa forma, bens como marcas e patentes são registrados no ativo de uma companhia e normalmente possuem uma validade gerida por contrato ou pela própria legislação.
Portanto, a forma de amortizar cada bem deve variar de acordo com as condições e peculiaridades de cada bem intangível e cada contrato estabelecido. Portanto, um bem intangível com validade de 5 anos, deve ter seu valor de amortização dividido ao longo desses cinco anos de forma que ao final do período de validade desses bens que sofrem amortização cheguem a zero.
Em caso de renovação contratual, em termos contábeis, é como se fosse adquirido um novo bem pela companhia. Portanto, a amortização começará de novo visando chegar a zero ao final do novo contrato.
Dessa forma, da mesma forma que é aplicada a taxa de depreciação sobre um bem tangível, a contabilidade de uma companhia pode amortizar o valor de um bem intangível. Esse recurso contábil tem a mesma finalidade que a depreciação, o qual é abater o valor amortizado do lucro líquido da companhia e reduzir o valor a ser pago em IRPJ e CSLL.
Qual a importância do conceito de depreciação no mercado financeiro?
O conceito de depreciação no mercado financeiro é importante especialmente para a análise de investidores. Tanto para aqueles que investem no mercado de renda variável como para aqueles que investem em ativos como fundos imobiliários, entender bem esse conceito pode melhorar a capacidade de análise.
No caso da análise de um fundo imobiliário, por exemplo, é importante que o investidor compreenda qual a vida útil dos imóveis que compõe esse fundo. Dessa forma, compreender esse tipo de conceito facilita para que o investidor consiga calcular a real capacidade de geração de renda desse tipo de investimento.
No caso das empresas listadas em bolsa, a análise é mais centrada nos balanços das companhias. A depreciação e amortização dos ativos da companhia podem contribuir para entender quando a empresa terá que realizar novos investimentos para atualizar seus bens e também se a contabilidade da companhia está sendo gerida de forma eficiente.
Em especial para quem investe com foco em dividendos, a análise sobre qual a vida útil dos principais ativos de uma companhia pode ser ainda mais importante. Visto que a necessidade de renovação dos bens pode significar um lucro líquido menor durante um período e, portanto, uma distribuição de dividendos reduzida.
Além disso, o conceito de depreciação é essencial para compreender o tempo de maturação que pode levar um novo investimento. Dessa forma, quando uma companhia passa por períodos de novos investimentos, a vida útil de bens adquiridos pode contribuir para ajustar as expectativas do investidor.
Apesar de ser um conceito complexo, chegando a ser discutido durante semestres inteiros em cursos superiores, para um investidor, compreender a essência da depreciação é o necessário. Inclusive pode contribuir de maneira direta para os seus resultados no que diz respeito a uma análise fundamentalista de uma empresa de capital aberto e também para ativos como FIIs.
Foi possível saber mais sobre a depreciação? Deixe suas dúvidas nos comentários.
Como calcular a depreciação?
Para calcular a depreciação é necessário utilizar o valor de aquisição de um bem e a taxa de depreciação anual desse bem. As taxas podem variar de acordo com o bem e também de acordo com a intensidade de utilização desse bem.
O que é a depreciação na contabilidade?
A depreciação pode ser entendida como um recurso contábil que tem por objetivo atribuir um custo financeiro de um ativo tangível ao longo da sua vida útil. Neste sentido, as empresas consideram esse tipo de conceito contábil dos seus ativos de longo prazo para fins fiscais e contábeis.
Como é um exemplo de depreciação?
A depreciação é redução periódica do valor de um bem de acordo com a sua vida útil. Dessa forma, caso um bem tenha uma vida útil de 10 anos, por exemplo, ele será depreciado ao longo desses 10 anos. Contudo, mesmo após esse período ele ainda terá um valor residual.
Quais são os tipos de depreciação?
Existem uma série de tipos de depreciação que podem variar de acordo com o bem e com a sua utilização. Os principais tipos de amortização são os tipos: linear, acelerada, acumulada e gerencial.
Como é um exemplo de depreciação acumulada?
A depreciação acumulada é a soma dos valores depreciados dos bens de uma companhia ao longo de um período. Dessa forma, se uma companhia com 10 bens depreciáveis, teve um valor de depreciação de R$ 10,00 por bem, a depreciação acumulada dessa companhia será de R$ 100,00.
Bibliografia
Estimativas do produto potencial, relação capital/produto e depreciação do estoque de capital